29 de maio de 2011

Entrevista II -1/2 - William Bengston e a pesquisa de curas por imposição das mãos (passes de cura)

Seria possível aprofundar a questão sobre o efeito da 'imposição das mãos' através de métodos experimentais? O prof. Willian Bengston gentilmente respondeu-nos a um conjunto de 12 questões que serão apresentadas em 2 posts a começar deste. O prof. Bengston é veterano pesquisador do efeito da imposição de mãos (hand-on healing) com funções terapêuticas, tendo já publicado inúmeros artigos científicos sobre o assunto.

Traduzimos abaixo um extrato de sua página pessoal que utilizamos aqui para apresentá-lo.
Willian F. Bengston (Bill) é professor de sociologia no St. Josephs College em Nova York, EUA. Doutorou-se na Universidade de Fordham, Nova York, em 1980. Suas atividades profissionais 'diurnas' incluem métodos de pesquisa e estatística.  
Durante muitos anos, Bill realizou pesquisa com as chamadas 'curas anômalas' e provou a eficiência de uma técnica desenvolvida por ele a partir de um teste experimental controlado com 10 animais e que foi conduzido em 5 laboratórios médicos. Sua pesquisa com esse tipo de fenômeno demonstraram com sucesso curas de tumores mamários induzidos por metilcolantreno em ratos por uma técnica de imposição de mãos que ele desenvolveu. Ele também investigou correlações dessas curas com micropulsações geomagnéticas e harmônicos em EEG (eletroencefalogramas).
O Dr. Bengston não oferece tratamentos de cura, diagnósticos médicos ou quaisquer tipos de consultas relacionadas à saúde ou tratamentos psiquiátricos. Seu tempo e esforço é dedicado a pesquisa sobre curas com as mãos (passes) e educação. 
Dr. Bengston tem publicações no Journal of Scientific Exploration, o Journal of Alternative and Complementary Medicine e a revista Explore. Além disso, deu várias palestras por todos os EUA e Europa. Bill é membro da Society of Scientific Explorarion (SSE) desde 1999 e, presentemente (2011), é seu presidente. Junto com Sylvia Fraser escreveu sobre suas experiências de cura na obra The Energy Cure: Unraveling the Mystery of Hands-on Healing, publicado pela editora Sounds True.
Para mais informações (em inglês), consulte sua página: www.bengstonresearch.com/

OBSERVAÇÃO: Como a 'imposição de mãos' é conhecida pelos espíritas como 'passe' (embora a aplicação para realização de curas seja minoritária), utilizamos os dois termos na tradução de forma equivalente por falta de outra palavra. Assim, onde estiver 'passe', lê-se 'passe de cura'. Termos como 'healer' e 'healee' também foram adaptados para facilitar a compreensão.

Entrevista

EE 1 - Como o Sr. se interessou pelo assunto de cura através das mãos?

WB - Fui atraído ao assunto de cura pelas mãos ao ler sobre uma incrível pesquisa feita por Bernard Grad na Universidade McGill entre 1950 e 1960. Trabalhando com o médium de curas Oskar Estebany, Grad demonstrou a aceleração significativa de crescimento de plantas e cicatrização de feridas em ratos. Tais experimentos me fascinaram, já que deslocavam tais curas do âmbito das piadas de consultório para ambientes mais controlados. Essa pesquisa foi claramente minha inspiração para continuar a pesquisa laboratorial do assunto.

EE  2 - Como o Sr. chegou a conclusão de que esse efeito nada tinha a ver com a fé ou postura religiosa da parte do candidato a passista?

WB - Meus experimentos foram feitos com voluntários que não acreditavam no efeito (incluindo eu mesmo) e que não tinham nenhum conhecimento prévio sobre essas curas ou de que se tratasse de um efeito real. Tais voluntários atuaram sobre indivíduos que também não tinham qualquer crença. Esses indivíduos eram, inclusive, ratos que tinham sido deliberadamente infectados com câncer. Desta forma, as curas foram demonstradas em situações onde nem o passista nem seus alvos tinham qualquer crença.
   
EE 3 - Mas o Sr.  não acha que a fé pode melhorar o desejo ou a intenção e, assim, aumentar o poder de cura por algum tipo de 'efeito de segunda ordem' ?

Já presenciei centenas de casos clínicos de curas por imposição de mãos feitos tanto por gente experiente ou não, sobre pacientes crentes e não crentes. Especulo que, 'se tudo o mais se mantiver igual', tais crenças tem, na verdade, um efeito retardador na eficácia da cura. Acho que a crença induz um tipo de tendência de 'se forçar' , que é uma tentativa de se reforçar a crença existente. Tal esforço traz em cena a mente consciente e o ego que, suspeito eu, não conseguem aumentar o poder de cura. Suspeito que o processo de cura por passes seja semelhante ao processo de cura em circunstâncias mais comuns, e, em tais casos, concentração ou qualquer coisa parecida não é necessária ou mesmo desejável. 

EE 4 - O Sr. acha que qualquer pessoa pode aprender a curar através de passes?

WB - Essa é uma questão interessante. Escrevi um artigo sobre ela em conjunto com um amigo biólogo, Don Murphy, que saiu no jornal Explore em 2008.  Nesse trabalho, salientamos que ninguém tem dados históricos sobre a eficácia de se ensinar os passes. Isto é, embora seja verdade que virtualmente todos os passistas aprenderam sozinhos, não há evidências de que o ensino de uma maneira particular de se realizar o passe melhore o processo de cura. Muita gente ficou enfurecida comigo por causa desse trabalho, que achei bem interessante. Para mim fica claro que existe um monte de crenças (desnecessárias) em torno do processo.

EE 5 - De acordo com sua experiência, qual o mecanismo mais provável envolvido na cura pelas mãos?

WB - Não faço ideia desse mecanismo, essa é a questão crucial! Acho que não se trata de um tipo de 'energia', mas sim troca de informação no processo de cura. Da mesma forma que temos uma quantidade enorme de troca de informação no processos normais biologicos (p. ex., na digestão, supressão de doenças etc), acho que o paciente depleta-se dessa informação de alguma forma durante a doença. No caso do câncer, por exemplo, o sistema imunológico em mamíferos funciona de forma contínua, mas, algumas vezes, o câncer predomina. Acho que o processo de cura por passes pode fornecer essa informação ao corpo que, então, atinge a cura por si próprio.

EE 6 - É possível conseguir o efeito de cura sem impor as mãos?

WB - A cura não parece ser afetada pela distância. Nos experimentos em micropulsações geomagnéticas (com Margaret Moga), obtivemos o mesmo efeito tanto a duas polegadas como a 2 mil milhas de distância. Da mesma forma, animais podem ser curados a grandes distâncias. É um fato interessante também que o poder de cura possa ser armazenado em alguns materiais. Por exemplo, Bernard Grad descobriu que Estebany segurava algodão que, depois, poderia ser usado para obter curas. Trabalho presentemente em alguns experimentos relacionados a isso.


J. Benveniste (1935-2004).
EE 7 - Na resposta da questão anterior, o Sr. disse que o 'poder de cura' pode ser armazenado em materiais. Ele poderia ser armazenado na água? Pergunto isso por que, nos experimentos de Jacques Benveniste, que tiveram como objetivo demonstrar a eficácia de soluções homeopáticas, descobriu-se que os resultados só poderiam ser replicados na presença de certas pessoas. Talvez esse tipo de 'efeito do experimentador' e a cura por meio das mãos tenham alguma causa em comum que, ultimamente, pode ser relacionada à eficácia dos preparados homeopáticos.


Tenho bastante certeza que se pode armazenar essa capacidade na água, embora isso represente um problema metodológico difícil. Em um dos meus experimentos, ratos eram tratados apenas com água desse tipo e foram curados. O problema metodológico é, dada a existência de ressonância conectiva, não sabemos se isso ocorreu por causa da água ou porque os ratos pertenciam ao grupo de geral conectado. Em suma, suponho que a água em si funciona.

Trabalhei com Jacques Benveniste em seu laboratório em Paris. Foi bem interessante. Ele ficou bem chateado quando viu que os efeitos que ele tinha descoberto somente ocorriam quando certas pessoas estavam no laboratório. Disse a ele que isso era uma descoberta incrível com implicações igualmente incríveis, mas ele não se mostrou animado com isso. Acho que ele pensou que o efeito que tinha descoberto era realmente independente do observador.

Continua no próximo post. 



20 de maio de 2011

Fim da Religião ou do irracionalismo religioso?

Se a religião, apropriada em começo aos conhecimentos limitados do homem, tivesse acompanhado sempre o movimento progressivo do espírito humano, não haveria incrédulos, porque está na própria natureza do homem a necessidade de crer, e ele crerá desde que se lhe dê o pábulo espiritual de harmonia com as suas necessidades intelectuais.  A. Kardec (4) ('O Céu e o Inferno', Parte I, Capítulo, 1: 'O Porvir e o Nada', parágrafo 13).

Recentemente uma reportagem publicada na 'Folha de S. Paulo' (Maio de 2011) (1) trouxe afirmação de líderes da Igreja Católica de que a ascensão social reduzirá a quantidade de pessoas nas fileiras do protestantismo ou outras denominações religiosas que surgiram como religiões reformadas. Deixando a polêmica de lado, o mais correto seria dizer que a ascensão social, que resulta em maior acesso ao conhecimento, não só reduz o número  de adeptos das igrejas reformadas, mas de todas as religiões que fundamentam sua teologia ou crença em tradições difíceis de serem defendidas, diante da nova imagem do mundo revelada pelo conhecimento científico. Tal observação tem consequências particulares. Para o Ocidente (onde se encontram a maior quantidade de pessoas consideradas cristãs - lê-se - que fundamentam sua crença em interpretações tradicionais da Bíblia) haveria um aumento no número de não cristãos. Essa previsão, em verdade, foi plenamente confirmada por pesquisas de opinião.
Fig. 1. Gráfico do percentual de pessoas na população que se dizem cristãs (azul), agnósticas (verde) e não cristãs (laranja) em uma pesquisa britânica. Há uma clara tendência para o 'desaparecimento' das religiões cristãs. 
Avaliações recentes feitas em pesquisas de atitudes sociais britânicas  (2) demonstraram que, na Inglaterra, o número dos que se dizem 'cristãos' está se reduzindo a uma taxa bastante grande, que se pode considerar 'alarmante' para os líderes das religiões tradicionais (Fig. 1). A época que vivemos é, assim, uma época muito especial, pois parece representar o fim de uma era. Não acreditamos que seja o fim das religiões, mas certamente o fim do dogmatismo religioso, da intransigência e do irracionalismo implicado por determinadas crenças. Para que tenha alguma utilidade, as religiões tradicionais deverão aprender a conviver juntas, de certa forma relativizando as implicações de seus dogmas que, de outra forma, já demonstraram levar a sua recíproca destruição.
A pesquisa britânica demonstra uma tendência em países mais 'desenvolvidos' ou em lugares onde as pessoas tem acesso à educação de qualidade - principalmente científica para o desaparecimento das religiões cristãs. Se nada for feito (e não parece que o será), a curva cinza da Fig. 1 encontrará a origem em duas vezes o intervalo amostrado da pesquisa, que é de 26 anos. Ou seja, em meio século, grupos cristãos serão minoria semelhante aos 'não cristãos' em países mais desenvolvidos.
Fig. 2 Mapa da Europa na pesquisa da Eurobarômetro (2005), Ref. 3, do percentual de pessoas que responderam 'sim'  à questão: 'você acredita em Deus?'
Isso claramente ocorre por conta do efeito 'anti-religão' provocado pelo ensino (Fig. 2). Ao se educar as crianças a compreender que a imagem moderna do Universo não corresponde àquela ensinada pelas antigas crenças, deixa-se de justificar outras crenças como o juízo final, céu, inferno, julgamentos terminais ou a existência de Deus feito à imagem e semelhança dos homens. Isso certamente está na origem para o declínio das religiões tradicionais. Basta que analisemos também, o que recente pesquisa demonstrou na Suécia, reconhecidamente o país o terceiro mais ateu país da Europa. Segundo a Wikipedia: Demographics of Atheism:
'Vários estudos mostraram que a Suécia é um dos países mais ateus do mundo. 23% dos cidadãos Suecos responderam que 'acreditam em um Deus', enquanto que 53% responderam que 'acreditam que existe algum tipo de espírito ou força vital'. Os outros 23% restantes não acreditam nem em Deus ou na existência de um tipo de espírito ou força superior.
Portanto, a conclusão da autoridade católica que analisamos no começo deste texto e que afirmou ser a ascensão social motor para a redução de protestantes, também vale para outros tipos de crenças, inclusive a católica. E, não é o enriquecimento que causa o esmorecimento da fé nas antigas crenças, mas o acesso à educação (de qualidade). Não obstante o enfraquecimento da crença na existência de Deus (conforme a imagem ensinada pelas religiões tradicionais), a maior parte da população ainda crê na existência de algo superior. A pesquisa 'Eurobarômetro' (3) de 2005 resultou no gráfico da Fig. 3. 

Fig. 3 Percentual da população que responderam 'sim' à questão: 'você acredita na existência de um Espírito ou força superior?'  Fonte: Pesquisa Eurobarômetro 2005, Ref. 3.
A Fig. 3 traz o percentual dos que responderam positivamente à questão sobre a crença em um Espírito ou força superior. Curiosamente, os países onde mais se acredita em Deus (Fig. 2), tem o menor percentual de crença no Espírito ou 'força superior'. Tais resultados demonstram positivamente a influência de fatores culturais (através da educação) sobre a crença e demonstram que, por trás dessa 'geografia do ateísmo' o que se vê é o desaparecimento de antigos modelos de crença religiosa. Conforme o parágrafo de Kardec que citamos na introdução deste artigo, a educação científica não fará desaparecer a religião - entendida como movimento que nasce a partir da necessidade de se crer inata no ser humano - como pretenderiam alguns ateus mais duros. O que se está a observar é uma ampla validação do que foi previsto por Kardec  em várias de suas obras (4):
A crença na eternidade das penas perde terreno dia a dia, de modo que, sem ser profeta, pode prever-se-lhe o fim próximo. ('O Céu e o Inferno', Cap. 6, parágrafo 1); 
É isso que se dá hoje com a Humanidade, saindo da infância e abandonando, por assim dizer, os cueiros. O homem não é mais passivo instrumento vergado à força material, nem o ente crédulo de outrora que tudo aceitava de olhos fechados. ('O Céu e o Inferno, Cap.6, parágrafo 22); 
Por muito tempo essa fórmulas lhes satisfizeram a razão; porém, mais tarde, porque se fizesse a luz em seu espírito, sentindo o vácuo dessas fórmulas, uma vez que a religião não o preenchia, abandonaram-na e tornaram-se filósofos.('O Céu e o Inferno, Cap.1, parágrafo 12)
Nenhuma crença religiosa, por lhes ser contrária, pode infirmar os fatos que a Ciência comprova de modo peremptório. Não pode a religião deixar de ganhar em autoridade acompanhando o progresso dos conhecimentos científicos, como não pode deixar de perder, se se conservar retardatária, ou a protestar contra esses mesmos conhecimentos em nome de seus dogmas, visto que nenhum dogma poderá prevalecer contra as leis da Natureza, ou anulá-las. Um dogma que se funde na negação de uma Lei da Natureza não pode exprimir a verdade. ('Obras Póstumas', Manifestação dos Espíritos, parágrafo 7). 
Assim, longe de estarmos vivendo o 'final dos tempos', amanhece um novo dia para a Humanidade.

Referências

(1) http://www1.folha.uol.com.br/poder/915670-ascensao-social-reduz-evangelicos-diz-lider-da-cnbb.shtml
(2) http://en.wikipedia.org/wiki/Demographics_of_atheism
(3) http://ec.europa.eu/public_opinion/archives/ebs/ebs_225_report_en.pdf
(4) A. Kardec: 'O Céu e o Inferno', 23a. Ed. FEB,  'Obras Póstumas', 15a Ed. FEB.