26 de fevereiro de 2011

Crenças Céticas XII - Tomando carona no ceticismo: Críticas ao 'Espiritismo' em Ateus.net


Vamos agora analisar alguns textos utilizando as discussões que apresentamos anteriormente sobre as crenças céticas. Com isso, fornecemos alguns fatos, como exemplos interessantes, que confirmam nossas exposições sobre o ponto de vista cético.

Nosso objetivo aqui não é discutir as crenças do ateísmo, mas fazer alguns comentários em torno de um artigo que pretende levantar críticas contra o Espiritismo, notadamente sobre a relação desse com as disciplinas acadêmicas. O artigo intitulado 'Espiritismo, Ciência e Lógica' é longo, mas uma síntese do pensamento do autor desse texto pode ser compreendida lendo-se a comparação que ele faz através de um quadro entre suas noções de 'Ciência' e de 'Espiritismo'. Esse quadro está mais ou menos no meio do artigo, e passamos a discuti-lo abaixo.

Um pouco antes desse quadro pode-se ler:

E o Espiritismo nessas mudanças? O fosso entre as metodologias da “ciência espírita” e as demais “ciências” do mundo material foi progressivamente aumentando.

Por 'mudanças' aqui, o autor entende as revoluções da física moderna que levaram a uma noção diferente do mundo em comparação aos critérios e interpretações da física chamada 'clássica'. Ele afirma que existe um 'fosso' entre as  'ciências do mundo material' e o 'Espiritismo'. Vejamos os pontos principais de sua argumentação, analisando o quadro comparativo que o autor coloca como argumentos a favor da existência de tal 'fosso':

"Ciência"

1) Comum novas gerações de cientistas refutarem trabalhos anteriores. Aversão a critérios de “autoridade”.

Aqui a palavra 'refutar' está sendo empregada de forma pouco precisa. Alguém já ouviu falar em 'refutação' dos trabalhos de Newton, Einstein, Maxwell? Será que 'Einstein refutou Newton'? Será que 'Maxwell foi refutado pela teoria dos campos'? Será que a Mecânica Quântica refutou a mecânica clássica?   Existem casos históricos de teorias - que eram as preferidas dos acadêmicos - terem sido suplantadas por outras. Um exemplo interessante foi a teoria do flogisto (antes dos desenvolvimentos da termodinâmica na Física), ou a teoria dos continentes fixos (na Geologia), suplantada pela tectônica de placas. Na Física, as teorias clássicas podem ser derivadas das teorias não-clássicas (ex., relatividade e mecânica quântica) a partir de determinados limites.  A tese de 'refutação' não se defende muito bem.

Também, a observação em análise demonstra conhecimento idealizado do mundo acadêmico: com relação à aversão aos 'critérios de autoridade', isso é um mito que corre entre cientistas. Todos sabem que um artigo científico receberá tratamento muito diferente se for publicado por um estudante (ou autor desconhecido) ou um prêmio Nobel, ainda que tenha o mesmo conteúdo. A autoridade se constrói no conceito: o 'nome' (número de artigos, citações, impacto etc). Ele conta muito e se correlaciona fortemente com quanto um pesquisador ou grupo de pesquisadores irá receber do governo ou de seus financiadores para a realização de pesquisa. Essa é a razão porque cientistas procuram sempre ter seus currículos atualizados com novas publicações e alunos. 

2) Obras de grandes mestres (Principia Mathematica, Origem das Espécies, etc.) ainda lidas como referência, fontes de valor histórico e como uma forma de adentrar no raciocínio do autor. Os estudantes, porém, usam bibliografia recente, expandida e corrigida.

É verdade, e, frequentemente, se acham erros de interpretação imperdoáveis em tais 'bibliografias recentes, expandidas e corrigidas' para tristeza dos estudantes (Campanario, 2006; Hubizs, 2003). Qualquer pesquisador sério sabe que não há nada melhor do que uma consulta aos autores originais para se encontrar os princípios que fundamentam as diversas teorias de sua ciência.

3) A lógica é usada como ferramenta apenas. O raciocínio precisa estar corroborado em evidências

Somos também brindados com essa preciosa observação: 

"Kardec depositava fichas demais na lógica. Ela é importante sem dúvida e tê-la é um requisito mínimo. Mas quem a estuda não demora a descobrir que ela não tem tanto poder assim como dizem."
Ao longo do texto, seu autor confunde a validade de pressupostos de uma argumentação lógica com a própria argumentação lógica. Não só Kardec, mas toda a comunidade de cientistas deposita fichas demais na lógica porque não existe outro método de raciocínio disponível.

4) O bom senso e a experiência usual nem sempre são seguidos (Relatividade e Mecânica Quântica que o digam. Idem para a “ação à distância” de Newton). Opta-se por soluções pragmáticas, ainda que esdrúxulas.

O autor diz que a 'Ciência opta por soluções esdrúxulas' e que isso é o resultado da Ciência se afastar do 'bom senso' e da 'experiência'.  Para quem compreende bem os fundamentos da Mecânica Quântica, ou da Relatividade sabe que essas teorias da Física estão estruturadas de forma lógica - sim a mesma lógica que o autor disse que 'não tem tanto poder assim como dizem'. Sob determinadas interpretações particulares, esses ciências podem revelar aspectos do Universo e do mundo que não estão de acordo com a experiência comum do dia-a-dia dos humanos. 

5) Há grande discussão em torno da filosofia da ciência quanto à questão da melhor metodologia para o estabelecimento de novos conhecimentos (refutabilidade, crise de paradigmas, etc.).

A Epistemologia é uma área acadêmica da filosofia. Entretanto, não existe consenso entre especialistas da área sobre o impacto dos estudos da epistemologia nas ciências. Na verdade, há quem defenda que estudos da Epistemologia não tem serventia na Ciência (Holton, 1984). Embora seja altamente positivo que estudantes das ciências se debrucem também sobre esse ramo da filosofia, sabe-se que a Epistemologia não é matéria obrigatória nos currículos da Física, Biologia, Química etc. Prefere-se não perder tempo com o assunto, embora sua aparente relevância para o desenvolvimento da Ciência.

6) Teorias inverificáveis, mas belas, são postas de lado.

Aqui,o que se entende por 'belas teorias'? Pois 'beleza' não é algo intrínseco do objeto admirado, depende também de quem admira. Uma teoria que é bela para um cientista pode não ser para outro. Exemplos dessa situação existem muitos na história da ciência. A teoria do movimento da Terra era insustentável para os defensores da Terra fixa e vice-versa.

Que exemplo que se pode dar de uma teoria inverificável? Como podemos saber que uma teoria é inverificável hoje diante dos avanços da tecnologia? Toda teoria é construída sobre algum fundamento empírico, entretanto, muitas teorias poderosas foram propostas bem antes de se registrar qualquer evento ou fenômeno que a suportasse.

7) Apropriações entre ramos da ciência (malthusianismo no darwinismo, biologia na sociologia – darwinismo social, eugenia) hoje são vistas com reservas. 

Talvez o mais apropriado aqui fosse dizer 'integração' e não 'apropriações'. De qualquer forma, a frase parece conferir status de ciência ao Darwnismo Social e a Eugenia. Talvez o objetivo seja dizer que determinadas interpretações ou extrapolações a partir de teorias científicas não mais são aceitas facilmente: o darwinismo social e a eugenia da biologia, o malthusianismo do darwinismo. A sociologia é uma teoria independente da biologia. 

8) Ciências que não têm acesso direto ao seu objeto de estudo (astronomia, história, etc.) lançam mão da análise indireta dos efeitos que chegam até nós. (espectro de luz, documentos históricos). 

Entretanto, porque ateus, céticos e materialistas exigem 'provas objetivas e repetitivas' dos fenômenos psíquicos? Por que a ênfase no 'rigor' e na 'objetividade'? A imensa maioria dos fenômenos chamados 'paranormais' não é acessível aos sentidos. Kardec foi a primeira pessoa a reconhecer as manifestações do Espíritos só podem ser acessadas indiretamente. 

9) Orações, Meditação e estados alterados de consciência são passíveis de estudo, mas isso não significa que seja verdade aquilo que seus praticantes dizem. 

Alguns estudos acadêmicos estrangeiros apontam para algo diferente, anômalo ou peculiar nos seres humanso: sua origem e natureza espiritual. Obviamente, todo cientista é livre para pesquisar o que bem entender, as limitações que se impõem vem da falta de recursos financeiros,  tempo (que é conseqüência da falta de recursos) ou capacidade intelectual.

A frase faz transparecer que a Ciência (no sentido de comunidade acadêmica) tem preconceito com relação a certas fontes de conhecimento. Mesmo assim, essa opinião contrasta com a de pesquisadores sérios em Parapsicologia que, frequentemente, reportam o que seus 'sujets' sentem (como informação importante), sem falar nos pesquisadores de experiência de quase morte. Infelizmente ainda não se desenvolveram métodos não humanos de se acessar as realidades do pós vida ou mesmo para praticar uma simples telepatia.

10) Não faz afirmações morais. Descobertas podem, inclusive, entrar em choque com a moral vigente. 

O objetivo das ciências naturais não é mesmo fazer afirmações morais. Mas isso não pode ser contado como uma virtude como a observação parece sugerir. O mais correto é dizer que as ciências naturais são neutras. De outra forma, aplicações tecnológicas (derivadas das descobertas científicas) podem tanto ser usadas para o bem como para o mal (Exemplos: avanços da genética, pesquisas nucleares etc).

"Espiritismo"

1) Medo de se distanciar da ortodoxia kardequiana. Culto à autoridade contido no espírito da Verdade ou Kardec. Há exceções, óbvio.

O culto à ortodoxia é o que mais se vê no ambiente acadêmico. Mais uma vez, a frase deixa transparecer conhecimento superficial do mundo acadêmico - que é o ambiente onde as ciências acadêmicas são 'produzidas'. Confunde-se repetidamente 'ciência' (teoria, hipótese, conhecimento) com o movimento humano que a produz. Assim confunde-se igualmente 'Espiritismo' com 'Movimento Espírita' tanto quanto 'ciência acadêmica' com 'academia'. 

O que na frase é chamado de 'culto' é o que ocorre em qualquer ambiente humano, que, no caso da Ciência, tem como objetivo proteger suas teorias contra revisões ou alterações mal intencionadas. Um cientista defende uma boa teoria com o mesmo zelo que um fazendeiro sua propriedade, e não há o que se achar estranho nisso. Pelo contrário, o oposto seria algo bastante inexplicável.

2) Livros de Kardec ainda utilizados sem alterações, mesmo no que há de errado. Notas de rodapé corrigem alguns erros.

Imaginemos uma situação hipotética: uma nova edição do 'Principia' de Newton sendo lançada repleta de 'revisões' e 'correções' a partir da relatividade restrita e geral. Imaginemos que os livros editados por Mawxell, Newton, Galileu, Boltzmann e outros grandes físicos fossem relançados com revisões completas - não notas de rodapé. Imagine lançar o livro fundamental de Charles Darwin em uma edição totalmente revisada conforme as novas descobertas da genética.

As obras dos pesquisadores pioneiros (em todas as áreas do conhecimento) representam um manancial de conhecimentos originais, onde se podem encontrar os princípios ou fundamentos das ideias e teorias e, portanto, não são passíveis de revisão.

Há muitas coisas que ainda devem ser 'descobertas' nas obras de Kardec. Justamente por não se dar o devido valor a certas passagens, é que não se consegue construir uma teoria correta sobre muitos fenômenos considerados 'anômalos'. 

3) A lógica é utilizada como meio de prova ou refutação de hipóteses, não havendo verificação de se a natureza pensa igualmente.

Quem 'pensa' em matéria de criação e teste de hipóteses são os seres humanos. A Natureza não pensa, ela simplesmente é. Aqui aparece a mesma crítica à lógica que o autor do texto diz 'que não tem tanto poder como pensam' (ver item 3 em 'Ciência' acima).

4) O senso comum, ao lado da lógica, é superestimado.

Em boa parte dos desenvolvimentos da Ciência, o 'senso comum' é utilizado como sinônimo de 'razoabilidade', ou seja, é uma percepção humana que permite distinguir o que é razoável do que não é. O mesmo ocorre com a lógica. (Ver considerações do item 3 em 'Ciência').

5) O conhecimento espírita ainda é majoritariamente indutivo, baseado em moldes científicos do século XIX (positivismo). 

Se por 'positivismo' entendermos a necessidade de se fundamentar o conhecimento em fatos ou fenômenos naturais, é compreensível que o Espiritismo tenha caráter 'positivo' neste sentido. Afinal aquilo que Kardec descreve em 'O Livro dos Médiuns' não é invenção dele, mas constitui uma fenomenologia verificável. É necessário que seja assim, pois a base do conhecimento não pode ser a crença ou a invenção. Toda ciência - ainda que nascida como pura teoria - só se estabelece ao se conectar a uma classe de fenômenos observáveis (não necessariamente através sentidos humanos). A ciência moderna continua a ser positiva ou positivista nesse sentido. 

Entretanto, é falso considerar o desenvolvimento e fundamentação do Espiritismo em uma acepção particular do positivismo: aquela que crê que o mundo deve ser explicado a partir de entidades que sejam acessíveis apenas aos sentidos humanos. Um positivista nessa definição só acredita naquilo que os sentidos lhe apresentam. Kardec aceitou a existência dos Espíritos e de muitas outras coisas a partir de evidências indiretas (afinal Espíritos não podem ser vistos ou 'detectados' por nenhum tipo de equipamento.

6) Persiste a presença de hipóteses “ad hoc” inverificáveis para sustentar pontos nebulosos da doutrina. (ex: vida “invisível” em outros planetas) .

Se o plano invisível existe na Terra, porque não poderia existir em outros planetas? Por que esse privilégio? Há aqui interpretação limitada da noção dos 'mundos habitados' . Ela não se refere a planetas, mas a planos de existência. Ao exigir 'hipóteses verificáveis' o autor está sendo incongruente com sua crítica de Kardec - o de acusá-lo de 'positivista'.

6) Apropriações correntes são feitas sem garantia de que são válidas (ação e reação, noções de mecânica quântica, etc.)

É verdade. Há muitas pessoas que fazem uso de paradigmas de ciências bem estabelecidas como modelos de entidades de natureza espiritual. Isso não só no Brasil como no exterior onde, dizem, o Espiritismo de Kardec não existe. Há que se explicar porque isso ocorre nesse contexto (além da argumentação simples exposta pelo autor), demonstrando que isso não é característica da Doutrina Espírita. Para ver um exemplo recente do uso de noções de Física Quântica, consulte a revista Neuroquantology.

7) Pede um lugar “especial” entre as ciências por não ter acesso direto ao seu objeto de estudo (espíritos).

Aqui temo outra afirmação totalmente falsa. Por isso é importante distinguir entre a noção de  disciplina acadêmica (disciplina que tem corpo de pesquisadores, cátedra, laboratórios, verbas, corpo de edição com publicações sujeitas à avaliação por pares etc) com ciência ou conhecimento sobre o qual ela discorre. Toda vez que dizemos 'O Espiritismo é Ciência', não estamos a afirmar  que ele é uma disciplina acadêmica nesse sentido especial. Assim, a afirmação não é válida.

Ainda assim, é possível ver que os 'objetos da Natureza' descritos e utilizados pela Doutrina Espírita são entidades que têm sua existência no mundo em que vivemos. Se eles não são objeto de estudo das disciplinas acadêmicas, então quem os estudará?

8) Verdades podem ser extraídas de “estados alterados de consciência”, vulga mediunidade. Contudo, nenhuma proposta rigorosa para a separação do joio e do trigo foi apresentada. 

Será correto igualar 'estados alterados de consciência' com a mediunidade? Se definirmos estado de consciência normal como o estado mental durante a vigília, então, quando dormimos ocorre mediunidade? Se o estado de vigília e sono são estados normais de consciência, então alguém bêbado terá mediunidade?

As 'propostas rigorosas' passam todas pelo crivo neo-positivista tece longas críticas à existência da própria fenomenologia psíquica. Aqui vemos transparecer incoerência: a Ciência aceita 'explicações esdrúxulas' e evidências indiretas fugindo do 'bom senso', mas  as investigações na esfera psíquica ou espiritual deve passar por um 'crivo rigoroso'. 

8) Produz cartilhas de certo e errado. Eufemismos são usados para se alegar que “não é bem assim…” 

Fica difícil avaliar essa afirmação do autor de 'Espiritismo, Ciência e Lógica' se ele não deu nenhuma referência a quais são essas 'cartilhas'.

Existem maneiras mais sofisticadas e razoáveis de se defender o ateísmo. Está claro que o referido artigo não só é tendencioso em relação à Doutrina Espírita, mas constitui uma defesa precária do ateísmo, que merece nosso respeito como crença. 


Referências

J. M. Campanario, (2006), Using textbook errors to teach physics: examples of specific activities. Eur. J. Phys. 27, 975–981 doi:10.1088/0143-0807/27/4/028

G. Holton (1984), Do Scientists need a Philosophy?, Times Literary Supplement 2, 1232.

J. L. Hubisz, (2003), Middle school text don’t make the grade. Phys. Today 56, 50–4


19 de fevereiro de 2011

Anomalias nos sinais elétricos do Cérebro com a morte do corpo

"...O Espírito é, se quiserdes, uma chama, um clarão, ou uma centelha elétrica." (Resposta a questão 88 de 'O Livro dos Espíritos', A. Kardec)

Para monitorar a atividade do cérebro é bastante conhecida e empregada a técnica da eletroencefalografia (EEG). Potenciais elétricos variáveis que surgem no crânio como resultado da intensa atividade neuronal podem ser investigados de uma forma limitada e mostram amplitude decrescente, que se correlaciona com a diminuição da atividade cerebral conforme o metabolismo do cérebro é atuado por diversos fatores tais como: efeitos de drogas, lesões ou 'isquemia' (do grego ισχαιμία, isch- restrição, aima , sangue).

Mais recentemente, algoritmos sofisticados de análise 'multivariável' de EEGs tornaram possível desenvolver equipamentos e escalas de consciência ('awareness') visando determinar, em tempo real, o grau de sedação em que se encontram pacientes em tratamento intensivo (as chamadas 'UTIs'). Isso é importante para se garantir 'inconsciência' durante intervenções cirúrgicas e em outros processos de tratamento. Duas escalas foram criadas, uma chamada 'índice biespectral' (chamado BIS) que é saída do monitor de índice biespectral e outra dos monitores SEDLine da empresa Masimo. O índice Sedline, por exemplo, considera o grau de sensibilidade à sedação que vai de 0 a 100. Acima de 80, o indivíduo é considerado plenamente consciente. Níveis seguros de sedação ocorrem entre 40 e 60. Abaixo de 40 a sedação é severa. Com a morte chamada 'cerebral', o índice biespectral vai a zero. 

Em um artigo recente e muito interessante ("Picos de atividade eletroencefalográfica na hora da morte: estudo de casos", Chawla, 2009), foram descobertos padrões anômalos no comportamento elétrico do cérebro no momento da morte do corpo.

No artigo que analisamos, o Dr. Chawla e sua equipe (Departamento de Anestesiologia e Medicina  de Tratamentos Críticos do Centro Médico da Universidade George Washington, EUA) monitorou um grupo de 7 pacientes em estado terminal em que tratamentos de apoio à vida foram progressivamente retirados. Com isso, eles entram em um novo 'protocolo' visando dar conforto ao processo que segue, que é a parada cardíaca seguida da morte do corpo. Durante esse processo, o comportamento elétrico do cérebro foi analisado usando as escalas que discutimos acima, o que resultou na descoberta de uma anomalia no comportamento da escala. A figura abaixo é um gráfico do índice Sedline para um paciente (chamado #01) durante o processo de parada cardíaca (monitorada conjuntamente com um ECG - eletrocardiograma).

Curva de nível BIS  no instante da morte, paciente #01 (segundo Chawla, 2009).
A parada cardíaca ocorre pouco depois das 6:35. Antes, a escala demonstra um nível normal de consciência, por volta de 80. Com a parada, oxigênio deixa de ser enviado ao cérebro (assim como a todo o corpo). O nível de 'consciência' representado na escala BIS começa, então, a cair. O nível da escala chega a zero pouco antes das 6:50 (cerca de 15 minutos após a parada), quando então algo acontece: um pico surge que dura vários minutos, o que sugere - por causa da maneira com que a escala é interpretada - que um 'clarão de consciência' final ocorre. Esse pico de 'awareness' foi observado em todos os pacientes e pode durar alguns minutos com uma média entre 30 e 180 segundos. A posição do pico também ocorre entre 15 a 25 minutos após a parada. De acordo com o artigo citado:

Pudemos observar vários desses picos de BIS (mais de 20) em outros pacientes que estavam na fase anterior à morte, e a temporização desses picos foi consistente, embora nem todos os pacientes demonstrassem a atividade. Apenas reportamos aqui pacientes para os quais fomos capazes de registrar o aparecimento do pico no monitor. Em nossa revisão bibliográfica, encontramos um reporte de pico de BIS em um cenário clínico semelhante (Grambrell, 2005). O formato e temporização deste pico reportado é consistente com a dos 7 pacientes examinados neste artigo.

Os picos podem ser considerados anomalias, pois não se prevê aumento da consciência tanto tempo decorrido após a parada cardíaca. Os tecidos neurais ingressam em estágio de 'isquemia' e a depleção de oxigênio impede qualquer atividade. De acordo com a explicação mais aceita sobre a base e fundamentação da consciência, não pode haver consciência na massa celular que não dispõe sequer de energia para alimentar a si mesma.

Curva de nível BIS  no instante da morte, paciente #02 (segundo Chawla, 2009).
Neste caso, o pico final durou mais de 5 minutos.
A análise dos gráficos de evolução temporal da escala BIS com a morte do corpo exibe claramente a existência de dois fenômenos concorrentes: uma curva assintótica (entremeada por picos menores), mostrando um regime associado ao novo processo bioquímico em andamento com a isquemia (depleção de energia) e uma explosão de atividade que antecede a 'morte definitiva' (depois desse pico, não há mais nenhuma atividade e o paciente é declarado clinicamente morto).

Duas explicações especulativas são fornecidas pelos autores: a primeira associada a algum efeito de 'interferência' gerado no algoritmo (o que é descartado) e a disruptura de potencial elétrico por grandes conjuntos de neurônios, o que causa uma cascata de atividade elétrica. Entretanto, essa atividade está associada a 'ondas de alta frequência' (as chamadas 'ondas gama') que também já se mostrou estarem ligadas a certas práticas meditativas. Os autores associam diretamente os picos anômalos de consciência como uma possível 'explicação' (obviamente empírica, ou seja, um fenômeno é considerado causa de outro) para as ocorrências ou experiências de quase-morte (near-death experiences, NDE):

Oferecemos esta como uma explicação potencial para a clareza com que muitos pacientes reportam 'experiências fora do corpo' quando ressuscitados com sucesso de um evento de quase-morte.

A parte do fato de que é difícil explicar como é possível que o indivíduo retorne ileso em suas funções cognitivas depois de experimentarem falta severa de oxigênio, essa explicação desconsidera totalmente outros detalhes das experiências, que é o das lembranças verificáveis de eventos externos ao paciente que ele adquire por ingressar em uma realidade diferente mas paralela a da vigília - com um cérebro considerado clinicamente morto. Assim, a sugestão da correlação entre o pico na escala de consciência e as experiências de quase-morte é algo precipitada, mas, não obstante, verificável. Para isso, é necessário monitorar a mesma escala com vários pacientes que sofrem NDE, até que se consiga um evento onde esses picos sejam de fato confirmados e correlacionados com os tempos da experiência.

Entretanto, a cautela dos autores demonstra uma prudência bastante profissional: 

A natureza dessas experiências invoca uma explicação espiritual ou divina, um tópico que está além do escopo deste artigo. Não obstante isso, o final da vida é uma área pouco estudada na medicina clínica e merece mais atenção. Se essas observações serão importantes, isso será determinado por investigações futuras. Para o profissional de tratamentos paliativos, esperamos que tais observações sejam úteis. Em nossa prática de cuidados, permanecemos bastante tempo em contato com famílias em luto. Nesse contato, pudemos constatar que a ideia de que 'algo' acontece no momento da morte é bastante reconfortante. Dado que sabemos tão pouco sobre essas observações, somos cuidadosos em não fazer afirmações definitivas. Mas, essa noção de um sinal elétrico que pode ser objetivamente medido próximo ao momento da morte é uma fonte de conforto para muitas famílias com pacientes que não resistiram ao tratamento em UTIs.

Para complementar nossa discussão, oferecemos ao leitor um texto para sua reflexão e comparação com os achados do artigo que aqui analisamos. Trata-se da descrição feita por André Luiz no livro "Obreiros da Vida Eterna" da morte de Dimas (Capítulo 13, 'Companheiro Libertado'; Xavier, 1988), sob auxílio do instrutor Jerônimo. Os grifos são nossos.

Dimas gemeu em voz alta, semi-inconsciente.

Acorreram amigos, assustados. Sacos de água quente foram-lhe apostos nos pés. Mas, antes que os familiares entrassem em cena, Jerônimo, com passes concentrados sobre o tórax, relaxou os elos que mantinham a coesão celular no centro emotivo, operando sobre determinado ponto do coração, que passou a funcionar como bomba mecânica, desreguladamente. Nova cota de substância desprendia-se do corpo, do epigastro à garganta, mas reparei que todos os músculos trabalhavam fortemente contra a partida da alma, opondose à libertação das forças motrizes, em esforço desesperado, ocasionando angustiosa aflição ao paciente. O campo físico oferecia-nos resistência, insistindo pela retenção do senhor espiritual.


Com a fuga do pulso, foram chamados os parentes e o médico, que acorreram, pressurosos. No regaço maternal, todavia, e sob nossa influenciação direta, Dimas não conseguiu articular palavras ou concatenar raciocínios. Alcançáramos o coma, em boas condições. O Assistente estabeleceu reduzido tempo de descanso, mas volveu a intervir no cérebro. Era a última etapa. Concentrando todo o seu potencial de energia na fossa romboidal, Jerônimo quebrou alguma coisa que não pude perceber com minúcias, e brilhante chama violeta-dourada desligou-se da região craniana, absorvendo, instantâneamente, a vasta porção de substância leitosa já exteriorizada. Quis fitar a brilhante luz, mas confesso que era difícil fixá-la, com rigor. Em breves instantes, porém, notei que as forças em exame eram dotadas de movimento plasticizante. A chama mencionada transformouse em maravilhosa cabeça, em tudo idêntica à do nosso amigo em desencarnação, constituindo-se, após ela, todo o corpo perispiritual de Dimas, membro a membro, traço a traço. E, àmedida que o novo organismo ressurgia ao nosso olhar, a luz violeta-dourada, fulgurante no cérebro, empalidecia gradualmente, até desaparecer, de todo, como se representasse o conjunto dos princípios superiores da personalidade, momentaneamente recolhidos a um único ponto, espraiando-se, em seguida, através de todos os escaninhos do organismo perispirítico, assegurando, desse modo, a coesão dos diferentes átomos, das novas dimensões vibratórias.


Referências

Gambrell M. Using the BIS monitor in palliative care: A casestudy. J Neurosci Nurs 2005;37:140–143

Lakhmir S. Chawla, Seth Akst, Christopher Junker, Barbara Jacobs, Michael G. Seneff. Surges of Electroencephalogram Activity at the Time of Death: A Case Series. Journal of Palliative Medicine. Dezembro 2009, 12(12): 1095-1100. doi:10.1089/jpm.2009.0159. O artigo pode ser lido em: http://www.liebertonline.com/doi/pdfplus/10.1089/jpm.2009.0159

Xavier F. C. Obreiros da Vida Eterna. 17a edição. 1988.  Ed. FEB.  ISBN: 8573283157.


12 de fevereiro de 2011

Crenças Céticas XI - A avestruz cética e o peru indutivista.


Era uma vez uma avestruz cética e um peru indutivista. Viviam uma vida tranqüila, em uma pacata fazenda modelo perdida no sertão do Mato Grosso. A avestruz e o peru gostavam de se envolver em discussões sobre a vida de outros animais na fazenda para aproveitar melhor o tempo.

Formavam uma dupla porque pensavam parecido. A avestruz não acreditava em nada. Dizia todos os dias:

"Comer sementes e pisar o chão, eis nossa razão! Nada há além disso!"

O peru acreditava em poucas coisas além do que via freqüentemente, mas não era igual à avestruz em um ponto: ele achava que podia decidir entre o que era verdade e o que não era. Além disso, era muito observador e notava outras coisas ao redor dele.

Ele percebeu que o sol se levantava todos os dias pouco depois do galo cantar, e se punha quando as galinhas iam dormir. Achava que isso sempre acontecia, pois ele era indutivista em seu jeito de pensar. Nunca tinha testemunhado um dia em que o sol não houvesse nascido. 

Comentou isso com a avestruz:

"Veja como posso prever o que quiser: amanhã bem cedo, o galo vai cantar e, à tarde, as galinhas vão dormir."

A avestruz não era muito curiosa, nem com seus próprios pensamentos, nem com o dos outros. Achava uma perda de tempo ficar pensando muito, já que nada mais além de pisar o chão e comer folhas de árvores e arbustos havia para se fazer. Mas estava um tanto entediada de dizer sempre a mesma coisa e resolveu dar atenção ao peru.

No dia seguinte, muito antes do sol nascer, queria mostrar que o peru estava errado. Mas, de repente, o galo cantou. Havia acontecido o que o peru dissera! Esperou pacientemente o dia todo e, de repente, as galinhas foram dormir. Mais uma vez o peru estava certo!

Intrigada com esses acontecimentos, repetiu tudo de novo no dia seguinte. E, mais uma vez, viu o galo cantar e, depois de esperar um dia inteiro de sol, as galinhas foram dormir. Repetiu isso uma terceira e quarta vez.

Ficou com inveja do peru, pois ela queria ter feito aquela descoberta sozinha. Então, decidiu ser mais esperta e fazer suas próprias previsões. De descrente e desanimada, a avestruz virou outra, uma verdadeira avestruz indutivista. 

Um dia, abordou o peru com uma aposta que usava o método do peru para comprovar suas próprias conclusões sobre a vida:

"Aposto que você não consegue prever coisas tão bem como eu faço! Sua vida é sempre a mesma, a ciscar o chão ou comer ração. Nada vai te acontecer amanhã ou depois, pois nada aconteceu com você hoje ou ontem."

Ficaram então os dois, avestruz e peru por um bom tempo, juntos, comprovando a predição da avestruz, o que também orgulhava o peru, afinal ele descobrira o método indutivista de pensar. 

Viram que o peru vivia sempre do mesmo modo com todos os animais da fazenda, na chuva, no sol, no calor ou no frio. Nada modificava sua existência ou jeito de ser, nem o quanto ele comia, nem como ele pisava o chão. Nem mesmo o ritmo das galinhas parecia abalar qualquer coisa na vida do peru. 

Era tempo de festa na fazenda, muitos enfeites e luzes, e a avestruz e peru ainda disputavam quem havia ganhado a aposta, a avestruz por tê-la proposto, o peru por ter descoberto o método. 

Resolveram então acabar de uma vez por todas com a disputa e escolher um vencedor. Disse o peru:

"Se amanhã eu ainda estiver do mesmo jeito, sempre como eu fui, dou-me por vencido e você ganha a aposta: sei que minha vida nunca será diferente!"

Mas, logo nas primeiras horas do dia seguinte, quando a avestruz foi procurar seu amigo para receber seus cumprimentos pela vitória, cadê o peru? 

Na noite do mesmo dia, a avestruz tremeu no seu ceticismo: tinha ouvido falar que seu amigo havia sido degolado e servido como prato principal em uma simples festa de Natal.

"FIM"

Referência

Esta estória é baseada em outra por B. Russell (Problems of Philosopy, Oxford University Press, 1912)

5 de fevereiro de 2011

Nova Edição de Paranthropology (Vol. 2, Número 1) - Destaque: ectoplasmias recentes no FEG.


O volume 2 (número 1, Janeiro 2011) da revista 'Paranthropology' já está disponível para download. Essa edição foi dedicada a 'Mediunidade e Possessão' e traz o seguinte conteúdo (traduzido do Inglês):
  1. A História da Pesquisa da Sobrevivência além Túmulo - Michael Tymn - p.2-6
  2. Em direção a uma História Social do Espiritualismo em Bristol - Jack Hunter - p. 6-8
  3. Candomblé, Umbanda e Kardecismo: Médiums em Recife, Brasil - Stanley Krippner - p. 9-13
  4. Uma demonstração de Transe mediúnico em Singapura - Fabian Graham - p. 14-15
  5. A Importância da Pesquisa da Mediunidade - p. 16-24
  6. Imagens da atuação de um Teiman no sul da Índia - David Luke - p. 24-26
  7. De posse de meus sentidos? Reflexões em Ciência Social sobre o intercâmbio com o Outro Mundo - Sara Mackian - p. 27-29
  8. A Arte do Médium: encontros com o Passado na Fronteira do Desconhecido. - Alysa Braceau - p. 29-31
  9. Seleções do Arquivo "Revenant" - Kristen Gallerneaux Brooks - p. 32-36
  10. Relatórios de uma sessão de Mediunidade de Efeitos Físicos a 8 de Outubro de 2010. - Jon Mees - p.37-38
  11. Clarividência, classe e convenção - Sophie Louise Drennan - p. 38-41
  12. Experiências no Espiritualismo - Michael Evans - p.41-43
  13. A Ciência e a Batalha da Pesquisa Psi  - Callum E. Cooper - p. 43-44
  14. Mediunidade, Possessão e nossa compreensão da Realidade - Kim McCaul - p. 45-46
  15. Pragmática e intenção na Escrita Automática: o caso Chico Xavier - Ademir Xavier  - p. 47-51
  16. Autonomia e morfologia no Ectoplasma do Grupo Experimental 'Felix' - Dr. Jochen Soederling - p. 52-55
  17. Eventos - p.56
  18. Reviews - p. 57-64
  19. A Disparidade de "Padrões de Tratamento" considerando o Exercício de Mediunidade como uma Profissão Permitida na Área de Saúde Comportamental. - August Goforth - p. 65-91.
Pragmática e intenção em psicografias: o caso Chico Xavier.

Tivemos a satisfação de ter um de nossos artigos publicados nessa revista (ver artigo número 15 acima). A introdução desse trabalho pode ser lida abaixo:


Comentaremos esse artigo posteriormente. Por hora fornecemos abaixo uma tradução dos primeiros dois parágrafos reproduzidos acima:

Pragmática e intenção em composições 
psicográficas: o caso Chico Xavier
Minha intenção aqui é apresentar a mediunidade de Chico Xavier com psicografias de recém falecidos. Como físico, eu deveria explicar os mecanismos envolvidos na mediunidade, como a mente do médium pode entrar em contato com informação oculta que é tão abundante em psicografias, quais são as leis que governam as condições e exigências do fenômeno, como a informação pode ser obtida dessa forma etc. Essa é uma tarefa bem difícil, e eu, inicialmente, pensei em invocar a teoria da comunicação, assumindo que a informação está em algum lugar e que os detalhes do processo são bem conhecidos. Minha intenção inicial, entretanto, mostrou que esse método era bastante insatisfatório. Além de ser um fenômeno humano, cada caso de mediunidade é único e tem suas peculiaridades exigindo estudo meticuloso. Tal característica não permite classificar a mediunidade em tipos bem definidos, o que parece ser importante na fase pre-científica de uma disciplina que busque descrever cientificamente os novos eventos.
Mas penso também que tal narrativa despretensiosa possa motivar outros estudos antropológicos a respeito da figura de C. Xavier e seu trabalho que é pouco conhecido fora do Brasil. Já que a posição cética é bem conhecida, não buscarei fazer nenhuma teorização, pois minha intenção é descrever o fenômeno como ele se manifesta, fornecendo ainda alguma informação a respeito do contexto no qual ele ocorre.
Destaques que achamos interessante: Experiências de Ectoplasmias no FEG.

Parece haver um renascimento de experiências com mediunidade de efeitos físicos na Europa (ver artigo de J. Hunter, número 2 acima), notadamente Inglaterra e Alemanha. A julgar pelas descrições do Dr. Jochen Soederling, conforme descrito em seu artigo "Autonomia e morfologia no Ectoplasma do Grupo Experimental 'Felix'" (número 16 acima) esse renascimento parece reviver a fenomenologia psíquica do século 19. O Dr. Soederling é um médico com doutorado em Medicina molecular e experimental que participa de sessões de ectoplasmias (não se pode dizer que são de 'materializações' pois os relatos descrevem apenas a produção de Ectoplasma) no grupo FEG (Felix Experimental Group) com uma nova 'safra' de médiuns e seus 'controladores'.

Experiência de Ectoplasmia no Grupo Felix (Alemanha) em 2009.
A imagem acima é uma das fotos que mostra um desses médiuns em ação. Essa foto foi tirada em escuridão total, apenas iluminada por uma fraca luz vermelha e, por isso, está sobre-exposta. No site do grupo Felix, existem diversos relatos de aparecimento de emissões e até mãos de ectoplasma. A figura abaixo é um desenho mostrando os movimentos de uma mão ectoplásmica da boca do médium que foi produzida muito recentemente.

Desenho representativo de uma mão feita de Ectoplasma produzida no FEG (em 2010).
As descrições dos fenômenos do grupo FEG parecem ter sido tiradas de alguma obra dos tempos iniciais do Espiritismo ou da Metapsíquica do alvorecer do século 20, mas são bem atuais. Nas palavras do Dr. Soederling:
Inicialmente, vi o aparecimento de uma substância móvel, que se ligava de alguma forma ao corpo do médium. Em muitas ocasiões, uma corrente branca de ectoplama era lançada da boca do médium, que o tocava para que ele se abaixasse até o chão. O médium expelia, muitas vezes, uma massa grande de ectoplasma de sua boca que podia ser vista sobre seu corpo ou ao redor de seus pés e no chão. Essa fase parecia de emanação. A substância tinha uma morfologia heterogênea, sua consistência parecia ser sempre diferente.

(...) Em todas as formações ectoplásmicas, havia sempre algo inconstante e irregular e, frequentemente, a aparência era diferente no centro se comparada às bordas. De outras vezes, pude ver uma massa mais perfurada, membranosa, com espessura que variava localmente e com interstícios vazios. Em uma fase subsequente, a estrutura passava por um processo de transformação ou evolução. Muitas vezes mãos perfeitamente brancas tornaram-se visíveis – normalmente pude testemunhar a evolução e movimentação de uma única mão. Tais mãos tinham tamanhos variados e não se comparavam à mão do médium, algumas vezes eram maiores, em outras, menores. Em muitas ocasiões, as pernas do médium eram totalmente visíveis ao mesmo tempo em que se podia ver o movimento da mão materializada.

As mãos podiam ser vistas a partir de suas palmas e davam a impressão de um agente vivo normal que se comprazia em interagir com o grupo. Vi frequentemente acenos ou dedos se moverem. De outra vez, testemunhei uma faixa densa de substância branca de aproximadamente 4 dedos de largura que foi expelida da boca do médium. A formação moveu-se aproximadamente 1,5 metros para fora da cabine. Em uma das estremidades havia uma mão que podeia ser vista por todos realizando movimentos e gestos.
Muitos se perguntarão: como isso é possível? Com relação à validade dos relatos e fotos acima, podemos dizer que são apenas registros de quem participou dessas experiências. O arsenal cético pode se posicionar contra, tornando a repetir o mantra de que essas 'evidência' são forjadas. Fotos são apenas registros (que não podem ser usadas nem para 'provar' nem para 'refutar' os fenômenos) e a crítica depende de se manter a crença de que as testemunhas são mentirosas.

O mais importante é perceber que fenômenos de Ectoplasmias são replicáveis e que está havendo um renascimento do interesse pela fenomenologia mediúnica de efeitos físicos. Contrariando a crença de que eles 'não mais são necessários hoje em dia', talvez estejam novamente sendo experimentados na Alemanha do começo do século 21.