25 de junho de 2011

Crenças Céticas XVI - O ceticismo dogmático como charlatanismo intelectual.

Søren Kierkegaard (1813-1855).
"Existem duas maneiras de ser enganado: uma é acreditar no que não é verdade e a outra é recusar-se a acreditar naquilo é." Søren Kierkegaard
Queremos até admitir, nestes últimos, uma opinião conscienciosa, visto que por si mesmos não puderam constatar os fatos; mas se, em tal caso, é permitida a dúvida, uma hostilidade sistemática e apaixonada é sempre inconveniente. (...). Explicai-os como quiserdes, mas não os contesteis a priori, se não quiserdes que ponham em dúvida o vosso julgamento. A. Kardec, Revie Spirite, Arigo 'Sr. Home', Fevereiro de 1858.
Dicionários definem fraude como o 'ato de enganar, esconder, distorcer informações, não cumprir com a verdade'. O ato em si de fraudar pode ser consciente, quando quem frauda tem interesses no ato, ou pode ser inconsciente. Nesse último caso, o agente da fraude não tem interesse explícito em enganar. Seu interesse é outro e ele nem tem consciência do engano.

As 'teorias da fraude' (ou do 'charlatanismo') formam o grupo das explicações mais preferidas do ceticismo dogmático quando se trata de relativizar, reduzir ou negar fenômenos psíquicos. Através dela, médiuns respeitados são considerados farsantes, fraudadores conscientes ou não da fé pública, mesmo que não se identifiquem nenhum interesse escuso tais como vantagens pecuniárias ou outros. Mas, não somente as fontes dos fenômenos são inescrupulosamente envolvidos, testemunhas, mães, parentes e amigos são todos envolvidos, seja como membros de uma quadrilha de embusteiros ou como vítimas de um gigantesco engodo propositado.

Fraudes também podem ser divididas em 2 tipos: as fraudes materiais e as intelectuais. As primeiras obviamente são preferidas dos céticos. Basta uma foto, um som, uma evidência sensorial que não esteja de acordo com as noções do senso comum que facilmente se pode acusar o material como uma tentativa burlesca e grave de se enganar. Quanto às fraudes intelectuais - as que são geradas através de argumentação ou material de natureza intelectual, essas são muito mais difíceis de serem identificadas. Se inexistem dúvidas quanto a existência das fraudes de primeira classe (materiais), com as de segunda classes existe uma clara dificuldade em sua identificação, mas é inegável que ela tem poder muito maior (e mais duradouro) de convencimento do que as primeiras. 

Nosso objetivo aqui é demonstrar que o grosso da argumentação pseudocética pode ser descrito verdadeiramente como uma mistificação de natureza intelectual e inconsciente. Isso porque, no rastro das explicações forçadas dos céticos 'linha dura' está a constatação de que eles mesmos, os que pretendem 'denunciar' a fraude ou o embuste, acabam se tornando os verdadeiros charlatães. Obviamente aqui não se trata de fraude vulgar: nenhum crítico, sério ou não, se interpelado, revelará ter outros interesses a não ser a sua 'verdade'. Mas, para todos os efeitos práticos, acabam 'enganando, escondendo, distorcendo informações e faltando com a verdade' Se não vejamos:

1 - Para que se possa ajustar uma explicação aos fatos, é necessário escrutiná-los detalhadamente e encontrar nos menores deles razões que aumentem a importância da explicação postulada, a da fraude. Assim, os menores erros feitos por médiuns são magnificados de tal forma a se tornarem 'evidências' conclusivas. Isso faz parte da tática da fraude pois é preciso que se acumulem evidências que, na cabeça dos pseudocéticos, formam um quadro favorável à tese que defendem. Como não podem distorcer muitos fundamentos, acabam se agarrando aos detalhes que são, por isso, magnificados para que adquiram importância. Detalhes como, 'por que o médium saiu 15 minutos mais cedo ou mais tarde', 'por que ele estava usando essa roupa e não outra' são considerados muito relevantes.

2 - Justamente porque os detalhes insignificantes são considerados muito importantes, o contexto ou muitas outras circunstâncias relevantes de fato são desprezados. Isso caracteriza o status 'intelectual' da fraude. O foco da crítica no detalhe faz com que se relativizem as circunstâncias, a idoneidade e outros detalhes menos aparentes. Pouco importa se testemunhas sérias podem ser encontradas. Se não foram enganadas fizeram parte da fraude. Como para o pseudocético é muito mais fácil apelar para os sentidos, condições não aparentes e circunstanciais devem ser obrigatoriamente desprezadas.  

3 - Foco em ressaltar o caráter ordinário e facilmente forjável de evidências materiais apresentadas. A tática é criar hipóteses das mais variadas e mutáveis para explicar qualquer material apresentado como evidência. Assim, hipóteses mirabolantes, teatralizações inusitadas ou confusões consistentes e incidentais de testemunhas são sempre levadas em conta.  Isso ocorre porque a crítica pseudocética focaliza-se no que é considerado evidência palpável. Todo o esforço é então gasto na sua invalidação pois, se isso for feito em paralelo com o passo (1) - quando detalhes menos importantes são magnificados - cria-se uma imagem do 'caso' obviamente identificável como embuste.  

4 - Existam pessoas que enganam, que exploram a credulidade e a  fé alheia. Esse fato óbvio é a explicação  principal e invariável da crítica pseudocética que se faz apresentar sempre como uma extrapolação justa. Juntando-se os passos 1-2-3 descritos acima, torna-se uma tarefa 'fácil' chegar a mesma conclusão sempre.

Analisemos todas as críticas que céticos endurecidos lançaram contra médiuns e os fenômenos espíritas e veremos sempre o processo descrito acima. Tal processo caracteriza charlatanismo intelectual em sua essência, pois é forjado como argumentação tendenciosa e, muitas vezes, 'inconsciente'. 
Quanto mais endurecido for o pseudoceticismo tanto mais ele se aproxima de um fraude ou mistificação intelectual porque as conclusões a que chega não são verdadeiras. Assim como se pode hoje facilmente, usando recursos tecnológicos, criar imagens fantásticas que explorem o que pessoas acreditem, o 'charlatanismo cético' pode modificar, retocar, forjar argumentos para se criar uma imagem aparentemente convincente embora falsa de determinado fato, principalmente quando esse fato ainda é considerado uma anomalia ou aberração para o senso comum.
Pouquíssimos céticos de carteirinha se dão conta disso, quando então descem em um processo de alienação pessoal flagrante. Analisemos detalhadamente cada caso particular e veremos que o motor principal da alienação será sempre o orgulho ferido, a necessidade de ser reconhecido e acreditado por suas audiências, a inveja pela admiração causada nos outros por esse ou aquele fenômeno transcendente que eles, os céticos, não conseguem reproduzir e que, por isso, passam a combater com todas as suas forças.


Outras identificações do charlatanismo cético: Diferenças entre quem busca verdadeiramente a verdade e o pseudocético. 

Estas diferenças também reforçam nossa tese do pseudoceticismo como mistificação intelectual:
  • Quem busca a verdade procura as questões relevantes a serem feitas. O pseudocético fornece de imediato aquelas que ele considera como as únicas possíveis;
  • Quem busca a verdade motiva-se por amor desinteressado à verdade. O pseudocético está interessado em que todos pensem que ele está certo, esteja ele ou não;
  • Quem busca a verdade aceita o fato de que aquilo que existe é muito mais do que ele sabe. O pseudocético afirma saber tudo o que se pode saber sobre determinado assunto;
  • Quem busca a verdade reconhece de bom grado casos que ele não pode explicar. O pseudocético ataca qualquer coisa que se lhe oponha o ponto de vista, e se esforça em destruí-la a fim de se mostrar superior.
  • Quem busca a verdade está realmente convencido das limitações da razão humana. O pseudocético faz da sua razão particular um deus que é capaz de perscrutar qualquer coisa;
  • Quem busca a verdade a procura em todas as partes, consciente de que idéias podem surgir em qualquer lugar ou nas pessoas menos prováveis. O pseudocético apenas aceita idéias que venham de pessoas consideradas 'experts' ou especialistas (segundo seu ponto de vista), além de autoridades convenientemente 'carimbadas';
  • Quem busca a verdade propõe hipóteses na esperança de que sejam verdadeiras. O pseudocético impõe dogmas como verdadeiros;
  • Quem busca a verdade reconhece que nem sempre os opostos são contraditórios, mas que, as vezes, podem se reforçar. O pseudocético pinta um quadro em preto e branco, certo e errado, sem chance para um ponto de vista contrário;
  • Quem busca a verdade está consciente de que não existem respostas finais para as questões humanas. O pseudocético faz com que cada resposta provisória ou tentativa pareça como a última final;
  • Quem busca a verdade reconhece quando se coloca contrário à opinião da maioria. O pseudocético segue sempre 'as autoridades mais confiáveis' no seu modo sarcástico de lidar com heresias;
  • Quem busca a verdade nunca fala em tom mais 'alto' com sua audiência. O pseudocético fala de modo contrário, de forma a mistificar ou impressionar a todos.

12 de junho de 2011

Entrevista II - 2/2 - William Bengston e a pesquisa de curas por imposição das mãos (passes de cura)


2a. Parte da Entrevista com o Dr. W. Bengston.

EE 8 - O Sr. acha que o mesmo mecanismo que explique o passe pode estar envolvido em outros tipos de cura a distância (obtido com médiuns de cura como, por exemplo, João de Abadiânia no Brasil)?

WB - Não tenho experiência em comparar técnicas diferentes de cura. As que uso no meu trabalho são difíceis de dominar e exigem compromisso da parte da pessoa sendo treinada. Já ouvi falar de outros métodos que são aparentemente mais fáceis de se praticar. É uma interessante questão saber se diferentes métodos resultam em diferentes resultados.

EE 9 - Franz A. Mesmer (1734-1815) acreditava que um tipo de fluido era trocado entre o passista e seu paciente através do que ele chamou 'magnetismo animal'. O que o Sr. acha desta teoria?

WB - Não há, certamente, troca de um fluido no sentido convencional do termo. E digo mais, não acho que a cura ocorra por qualquer tipo de 'efeito de campo'. Em alguns de meus experimentos, ratos foram curados de câncer, ratos usados como controle foram curados e nada no meio foi afetado. Se as curas resultassem da ação de algum campo, tais resultados não fariam muito sentido.

EE 10 - No Brasil, muitos grupos espíritas usam passes ou a imposição das mãos como prática nascida nos tempos de Mesmer no alvorecer do século XIX. O objetivo é promover o equilíbrio psicológico aos que frequentam reunões espíritas. O Sr. acha que tais práticas - por extensão - podem ter algum efeito no humor dos indivíduos? Se sim, o Sr. acredita que não se pode defender a idéia da sugestão envolvida no efeito?

WB - Acredito fortemente que a imposição de mãos não é apenas para se obter cura de doenças. Já vi e ouvi muitos casos onde a prática pode trazer benefícios psicológicos também. Certamente há muita gente que aprendeu minhas técnicas de passes e que reportam terem experimentado benefícios dessa natureza.

EE 11 - Não obstante todo o sucesso e experiência no assunto, por que tanta gente (particularmente os acadêmicos) não se convenceram ainda?

WB - Gente que ainda não está convencida, não olhou ainda os dados. Nesse ponto, mesmo um cético como eu mesmo, deve concluir que, se formos levar em conta os dados, a questão sobre se ocorre cura ou não não é interessante. A questão realmente importante é sobre o mecanismo, sobre o que aumenta ou diminui a eficácia da cura, sobre se o processo de cura pode ser ensinado, ou seja, questões desse tipo. A questão sobre se você deve acreditar nas curas faz tanto sentido para mim como a questão sobre se você deve ou não acreditar na gravidade. 

EE 12- Na sua opinião, o que se deve fazer para mudar a tendência cética em relação à cura por meio de passes?

WB - Para realmente mudar as coisas, precisamos de aplicações práticas.  Se, por exemplo, a capacidade de cura pode ser armazenada e reproduzida sem a presença do passista, então, talvez ela possa ter aplicações maiores. Se a imposição de mãos estimula algo no corpo, tal como o sistema imune e esse estímulo possa ser reproduzido sem o passista, teremos aplicações bem interessantes. Estamos trabalhando nisso agora.

The Energy Cure: Unraveling the Mystery of Hands-on Healing.
(Título: Cura energética:  desvendando os mistérios da cura pelas mãos) Editora: Sounds True.
Para saber mais (artigos científicos em inglês do Dr. Bengston):

"Spirituality, Connection, and Healing with Intent: Some Reflections on Cancer Experiments on Laboratory Mice." Forthcoming in Lisa Miller (ed.), Oxford Handbook of Spirituality and Psychology. Oxford University Press, 2011. Trad. título: Espiritualidade, Conectividade e cura com intenção: algumas reflexões sobre experimentos de curas de câncer em ratos de laboratório.

"Breakthrough: Clues to Healing with Intention." Edge Science, no.2, January/March 2010, p.5-9. www.scientificexploration.org/edgescience/edgescience_02.pdf. Trad. título: Novidade: pistas a respeito de curas com intenção.

"The Healing Connection: EEG Harmonics, Entrainment, and Schumann's Resonances."Journal of Scientific Exploration, vol. 24, no. 4,Winter 2010, pp. 655-666. (with Luke Hendricks and Jay Gunkelman). Trad. título: Correlação nas curas: Harmônicos de Eletroencefalograma, arrastamentos e ressonâncias de Schumann.

"Anomalous DC Magnetic Field Activity during a Bioenergy Healing Experiment." Journal of Scientific Exploration, vol. 24, no. 3, pp. 397-410, 2010. (with Margaret Moga). Trad. título: Atividade de campo magnético DC anômalo em experimento de curas bioenergéticas.

"Some Patterns of Acceptance of Anomalies." The Explorer, vol.22, no.3, Spring 2009, p.7-9. Trad. título: Alguns padrões de aceitação de anomalias.

"Can Healing Be Taught?" Explore, vol 4(3), pp. 197-200, May/June 2008. (with Don Murphy). Trad. Título: Pode-se ensinar a curar (com as mãos) ?