23 de fevereiro de 2013

Conceitos básicos de Física Quântica V (a questão do vácuo quântico)

Imagem de uma nuvem molecular no espaço. Pensava-se que se tratava de um espaço vazio, mas ela é, na verdade, preenchida por matéria opaca que não permite ver as estrelas ao fundo.

Apresentação elementar de conceitos básicos em física quântica para que o leitor possa melhor julgar e se posicionar diante dos que pretendem misturar espiritualismo com essa especialidade da física. 

Uma considerável mudança na nossa maneira de compreender o 'vazio' e o 'nada' surgiu com o desenvolvimento subsequente da física quântica. Para compreender melhor as descobertas que foram feitas sobre essa questão (e as implicações filosóficas disso), é preciso saber qual era a situação antes dos desenvolvimentos fundamentais dessa nova física. Depois, veremos como o papel criador do vácuo quântico pode aparentemente substituir Deus e abrir uma via de argumentação para o ateísmo.

O papel do espaço vazio na física clássica

Em realidade, o espaço considerado 'vazio' (desprovido de qualquer tipo de substância) não correspondia ao conceito mais abstrato de vazio absoluto (que guarda correspondência grande com a noção de 'zero' da matemática). Desde o surgimento das primeiras teorias mecânicas no Sec. XVII, como foi o caso da teoria da Gravitação, uma lacuna enorme entre a concordância teórico-experimental que era observada e a ausência de uma justificativa ou 'interpretação' para a ação à distância que existia entre corpos gravitantes foi percebida.

Fig. 1 Lei de Newton entre corpos gravitantes. Triunfo analítico
sem explicação ou justificativa intuitiva.
Se os planetas e o Sol influenciavam uns aos outros, como se dava essa influência? Compreedia-se bem como uma força poderia ser transmitida entre dois corpos por contato entre eles, mas, entre o Sol e um determinado planeta, o que causava o efeito da força? Havia algo no espaço que era responsável pela transmissão dessa força? Se sim, esse 'algo' invisível preencheria o espaço entre o Sol e o planeta e tornava a ideia de 'nada' difícil de ser aceita de forma absoluta (Fig. 1). 

Mais tarde (segunda metade do Sec. XIX), a física clássica atingiu o apogeu com a formulação precisa das leis de Maxwell para o eletromagnetismo. Outros tipos de força à distância, além da gravitacional, foram descobertos e formalizados por meio de teorias especiais que resultaram na explicação de uma grande quantidade de fenômenos, bem como na previsão antecipada de outros nunca imaginados. 

A 'joia da coroa' em termos de interpretações de teorias físicas era a explicação para a propagação da luz. Reconhecida como um resultado da oscilação de dois tipos de 'campos' que eram gerados por cargas aceleradas, a radiação eletromagnética só poderia se propagar por causa da existência de um meio especial - chamado de éter luminífero (que não tem nada a ver com as substâncias do grupo éter em química!) - no espaço considerado vazio. 

A analogia com oscilações mecânicas era evidente: da mesma forma como o som precisa de um meio para se propagar (no caso ordinário, esse meio é 'invisível' ou 'transparente' - o ar), ondas de luz também prescindiriam de uma substância especial igualmente invisível que preencheria todo o espaço considerado vazio para os sentidos humanos. Se fosse possível retirar essa substância do espaço, fenômenos luminosos não ocorreriam. Como o éter era considerado 'intangível', jamais seria possível atingir a condição de vácuo absoluto.

Flutuações do ponto zero

Mesmo dentro da física clássica, diversos questionamentos ao conceito de éter luminífero foram feitos com o surgimento da Relatividade Restrita. De forma resumida, ficou claro que seria possível continuar com desenvolvimentos teóricos e explicativos de fenômenos físicos envolvendo a luz sem que a noção de um éter luminífero fosse invocada. Isso porque a ideia de um éter desse tipo estava ligado ao conceito, que se tornou desnecessário, de 'referencial absoluto' - o próprio referencial do éter luminífero (ou seja, o sistema de coordenadas em que o 'éter' estaria em repouso). O formalismo das equações do eletromagnetismo só exigia que tais equações fossem 'invariantes' (não mudassem de forma) entre referenciais chamados 'inerciais', dispensando a ideia de referencial absoluto e esse tipo de interpretação de éter junto (1).
Fig. 2 Um diagrama que descreve o fenômeno conhecido como 'polarização do vácuo'. Dois elétrons (e-) interagem através da força eletromagnética - o que se dá, fundamentalmente, por meio da troca de fótons 'virtuais'. Nessa interação, flutuações no vácuo podem causar a produção de pares 'partícula-antipartícula' (e-, e+) como representado no desenho. Essas partículas são geradas no 'vácuo quântico' em todos os pontos do espaço dando origem a fenômenos interessantes.
Um novo papel para o vácuo seria descoberto com a junção de duas grandes teorias físicas: a relatividade e os primeiros formalismos da física quântica. Conhecida como 'teoria de campos', essa nova teoria foi capaz de prever novos fenômenos na Natureza que foram interpretados como tendo origem no espaço considerado vazio. Isso foi feito por meio da quantização do campo eletromagnético. O processo de 'quantização' envolve tomar quantidades físicas bem conhecidas (energia total, momentos etc) e aplicar as regras da física quântica, de forma a se obter uma teoria aplicável ao mundo microscópico (Fig. 2).

A quantização do campo produziu um resultado notável: era impossível deixar de associar a cada ponto do espaço uma quantidade de energia oriunda do campo eletromagnético, mesmo na ausência total de cargas. Ou seja, cada ponto do espaço 'vazio' é preenchido por uma substância eletromagnética e tem uma energia 'infinita' associada. Como esse estado é o de menor energia, é impossível retirar energia dele, mas, nem por isso ele deixa de ter papel fundamental em vários fenômenos quânticos. O mais notável deles - por se manifestar no 'mundo macroscópio' -  é o da força atrativa entre placas de metal, força gerada por desbalanceamento da quantidade de modos eletromagnéticos dentro e fora das placas. Essa força mecânica é gerada pelos modos do vácuo que atuam sobre as placas e é conhecido como efeito Casimir (Fig. 3). Essa força foi medida quantitativamente em 1997 por S. Lamoreaux (3).

Ilustração explicativa de um efeito real do vácuo quântico . Duas placas de metal são constantemente atuadas por fótons 'virtuais' (partículas do vácuo) no efeito Casimir. As placas limitam a quantidade de modos de oscilação no interior de forma que a quantidade maior delas na parte externa gera uma força de atração que é mensurável experimentalmente. Se flutuações de vácuo quântico não existissem, não haveria nenhuma força. 

Pode-se imaginar que todo o espaço é sempre preenchido por campos eletromagnéticos quantizados que oscilam de forma aleatória. Por isso, o vácuo quântico também é conhecido como fenômeno de 'flutuações do ponto zero', numa referência ao estado de menor energia desse campo.

Um conceito agradável ao ateísmo

A noção de vácuo quântico mostrou ser útil nas críticas modernas do ateísmo. O 'poder criador' do vácuo quântico pode muito bem substituir a necessidade de um agente criador independente, a ideia de Deus. Como, numa interpretação superficial, a potencialidade do vácuo é infinita, então qualquer coisa pode resultar dele, inclusive tudo no Universo. Para apreciar melhor esse ponto, considere o trecho extraído de 'Daylight Atheism' (2):
Logicamente falando, há apenas duas possibilidades para a origem última do Universo: ou há uma regressão infinita de causas, ou existe uma causa primeira que não pode ser explicada em termo de causas ainda mais fundamentais. Ateus ou religiosos devem concordar que essas são as únicas alternativas. Se existe uma regressão infinita de causas, parece sem sentido continuar com investigações cada vez mais profundas; pois tal fim jamais será atingido. Se há uma causa, porém, podemos produtivamente nos perguntar sobre como ela seria 
Esse é o ponto onde Craig e Strobel tem problemas, porque nós já temos um candidato excelente para causa primária: o vácuo quântico, um estado infinito e caótico que continuamente gera novos universos através de flutuações estatísticas. Sabemos já que o vácuo existe, assim como muitas de suas propriedades, então, nenhuma nova entidade é mais necessária aqui. Numa tentativa arbitrária de decidir que o vácuo tem que ter uma causa, Craig introduz uma nova entidade ou divindade sobrenatural que ele acredita tem o poder de criar novos universos. Isso é coisa para a qual não temos evidência experimental alguma e que não resolve o problema da causa primária melhor do que o vácuo já o faz. (grifos nossos; sobre o trecho original ver 4)
Essa ideia é ingênua, pois  energia e matéria não são as únicas coisas que existem no Universo para as quais o vácuo seria causa suficiente. Ateus devem encontrar uma maneira de explicar como a informação, que organiza a matéria a partir de certo nível, apareceu desse "nada" também.

A noção de vácuo como 'vazio' ou 'nada' torna-se uma arma de retórica na língua de adeptos do ateísmo que consideram isso uma maneira de atacar o princípio básico de que 'nada existe sem uma causa'. Como vácuo tem como sinônimo o 'nada', então 'o nada pode gerar tudo' torna-se um novo motto para o ateísmo. O vácuo quântico não corresponde ao 'nada', mas está simplesmente preenchido por algo intangível.

Chegamos a uma situação engraçada hoje, quando espiritualistas exaltados, que vêem com bons olhos as descobertas da física sobre o papel do vácuo físico, fazem coro com ateus no reconhecimento do papel criador desse novo vazio que tem em comum com o 'nada' apenas semelhança de palavras...

Notas e referências
  1. Ainda hoje, há quem acredite no éter luminífero. O conceito de 'éter luminífero' tornou-se uma bandeira de físicos que não aceitam as explicações padrão em relatividade e cosmologia. 
  2. Ver: http://www.daylightatheism.org/2009/09/cfac-its-all-because-of-quantum.html (acesso em Dezembro de 2012);
  3. Lamoreaux, S. K. (1997). "Demonstration of the Casimir Force in the 0.6 to 6 μm Range". Physical Review Letters 78: 5;
  4. Trecho original:
Logically speaking, there are only two possibilities for the ultimate origin of the universe: either there is an infinite regress of causes, or there is a first cause that cannot be explained in terms of earlier causes. Both atheists and theists should be able to agree that those are the choices. If there's an infinite regress of causes, it seems pointless to keep investigating further and further back; such a quest would be guaranteed never to end. If there is a first cause, though, we can productively ask questions about what sort of thing it might be. 
This is where Craig and Strobel run into trouble, because we already have an excellent candidate for a first cause: the quantum vacuum, a timeless, chaotic state that continually spawns new universes through random statistical fluctuation. We already know that the vacuum exists and we know what many of its properties are, so no new entities are required in this explanation. In arbitrarily deciding that the vacuum must have a cause, however, Craig introduces a new entity - a supernatural deity which he believes has the power to create new universes. This is something we have no experimental evidence for, and it solves the first-cause problem no better than making the vacuum the first cause.

12 de fevereiro de 2013

Comentários sobre 'Kardec e os Exilados'

"Nos mapas zodiacais, que os astrônomos terrestres compulsam em seus estudos, observa-se desenhada uma grande estrela na constelação do Cocheiro, que recebeu, na Terra, o nome de Cabra ou Capela." (Emmanuel, Ref. 3)
Neste post, alguns comentários são feitos sobre o texto 'Kardec e os Exilados', que faz parte do blog 'Espírito Verdade' (1). Nossa análise não tem como objetivo invalidar as conclusões gerais a que o autor do texto chega com relação à necessidade de cuidados na aceitação das mensagens dos Espíritos.  Certamente, concordamos com a máxima de Kardec:
“Toda teoria em contradição manifesta com o bom-senso, com uma lógica rigorosa, com os dados positivos que possuímos, por mais respeitável que seja o nome que a assine, deve ser rejeitada” (2)
É verdade que devemos ter 'lógica rigorosa' e 'bom-senso' (o que talvez seja mais fácil afirmar do que exercitar na prática). O que pode não ser tão simples fazer é o uso correto dos 'dados positivos' diante dos quais se pode realmente executar uma análise rigorosa. Isso acontece porque o rigor é irmão do conhecimento profundo que, em ciência, só vem depois de anos de estudo e dedicação numa área específica.

Em particular a conclusão específica de 'Kardec e os Exilados', a saber, que é inválida a tese dos (Espíritos) exilados de Capela como apresentado em 'A Caminho da Luz' (3), não pode ser sustentada com base nas afirmações não referenciadas feitas nesse texto.

O livro 'A Caminho a Luz' (3) é uma síntese de seu autor sobre uma possível história para a Terra no passado longínquo. De forma alguma ele é um 'tratado de astronomia estelar' ou livro que pretenda ser científico a revelar mistérios que só cabem aos homens descobrir. Sua proposta é esclarecer moralmente seus leitores, sem pretensões de cientificidade. Por isso, soam inúteis e até ridículos os esforços de invalidá-lo apresentando montanhas de dados técnicos sobre Capela que a ciência presente ainda está analisando, sem chegar a conclusões definitivas. De outra perspectiva, o texto de Emmanuel trata de um tema absolutamente secundário na codificação e que, portanto, não tem consequências para seus princípios gerais.

Nossa conclusão é que o autor de 'Kardec e os Exilados' usa de malabarismos retóricos e não de 'argumentação rigorosa'  na sustentação de sua tese contra o livro de Emmanuel.

 Afirmações questionáveis

Fig. 1 Imagem sintetizada por um interferômetro mostrando o sistema duplo de Capela (alfa Aurigae). Cortesia 'Atlas do Universo'. 1 AU equivale a distância entre a Terra e o Sol.

Em ordem conforme aparecem no texto 'Kardec e os Exilados', comentamos alguns trechos abaixo.
"Segundo especialistas, Capela não tem planetas." (4)
Usando a 'lógica rigorosa' de Kardec, o mais correto é dizer que é hoje impossível saber se o sistema de Capela tem ou não planetas, pois os métodos presentes de detecção só permitem achar planetas com massa a partir de certo valor ou que estejam em condições especiais de alinhamento em relação à Terra (5). O que se sabe sobre o sistema de Capela atualmente é que:
Astrônomos julgam muito difícil detectar um planeta do tipo terrestre na zona habitável desse sistema binário usando métodos presentes. (grifos nossos, 6)
A extrapolação vai além, ao se concluir que:
"mesmo que algum fosse encontrado, nenhuma estabilidade apresentaria que possibilite ­(ou mesmo que tenha possibilitado em bilhões de anos passados) o surgimento de vida." (7)
O 'estabilidade', aqui, refere-se ao planeta. Não há nenhuma referência no texto ao que o autor entende por 'estabilidade'. Seria isso algum tipo de 'estabilidade dinâmica'?  Ou seria ela de outra natureza, por exemplo, química para sustentar a vida orgânica? Se não dispomos de métodos para detectar - mesmo que indiretamente - esse planeta, como podemos saber que ele será instável para a vida?

A tal estabilidade parece ter algo a ver com a questão dinâmica. Mais à frente, o autor de 'Kardec e os Exilados' comenta:
Eles têm ainda por certo que só estrelas simples ocasionam probabilidades para o desenvolvimento de formas orgânicas.(8)
Esta afirmação está desatualizada. Até pouco tempo atrás, alguns astrônomos acreditavam que apenas 'estrelas simples' (leia-se 'estrelas solitárias') teriam planetas, embora simulações dinâmicas mostrassem a possibilidade de existência de planetas em sistemas múltiplos (9). Capela é um sistema duplo (10), o que não impede que ela tenha grande chance de ter planetas, inclusive semelhantes à Terra. A possibilidade presente na ciência é oposta à afirmada pelo autor de 'Kardec e os Exilados':
Durante as fases de gigante combinadas relativamente breves das duas estrelas no presente, entretanto, um planeta poderia orbitar o par Aab desde que longe o suficiente das duas estrelas principais que agiriam como uma fonte gravitacional única e próximas o suficiente para receber energia para sustentar a vida, possivelmente a 12,5 UA de distância da binária. (grifos nossos, 11) 
Como 'vida', no sentido do texto acima, é a vida orgânica, um planeta a 12,5 UA (12) de distância do centro do sistema seria habitável. Portanto, a afirmação:
"Assim, em nome do Espiritismo, não se poderia sustentar que há ou que houve vida num planeta que não existe nem nunca existiu no sistema Capela", (13)
não tem fundamento. O planeta mencionado por Emmanuel pode sim existir. Ainda no texto 'Kardec e os Exilados', complementa o autor:
Capela, porém, é um sistema de nove estrelas (duas principais e mais sete) com tremendas instabilidades de várias ordens.(14)
O que também está em desacordo com os 'fatos positivos'. O sistema de Capela é formado por duas estrelas brilhantes (gigantes amarelas), além de mais duas estrelas anãs muito distantes, localizadas a 11 mil UA de distância do par principal. As outras 'cinco estrelas' a que se refere a Ref. 11 foram talvez resultantes de uma leitura apressada de textos de divulgação astronômica que mostram companheiras do sistema Capela que não estão fisicamente ligadas ao sistema (15). De forma alguma esse sistema é instável, pois a distância do par secundário é grande demais para gerar qualquer instabilidade.

Uma possibilidade para um planeta em Capela


Fig. 2 Concepção artística de Gliese 667C que também serve de ilustração para o sistema de Capela.
Admitida a existência de um planeta na zona habitável de Capela, como seria ele? Somos obrigados também a admitir que esse planeta seria igual à Terra (para suportar vida da única forma orgânica que conhecemos). Com base em previsões 'teóricas' (16), a Fig. 3 traz uma ilustração de uma órbita não excêntrica em torno do par binário de Capela nessa zona habitável. Um tal planeta teria que se localizar à distância de 12,5 UA do centro gravitacional do par principal. Portanto, a 'zona habitável' do planeta dos "capelinos" estaria pouco mais afastada que Saturno (9,5 UA), mas não além de Urano (19,2 UA). Nessa zona, um planeta rochoso como a Terra poderia abrigar vida, pois o nível de radiação que o atingiria seria equivalente ao do Sol, possibilitando temperaturas semelhantes à da Terra. Usando o princípio da constância das condições climáticas para a permanência da vida orgânica, o planeta teria que ter uma órbita aproximadamente circular em torno do par principal, levando cerca de 19,3 anos terrestres para completar uma volta em torno do par principal. Esses valores não são de forma alguma exatos, a zona habitável é, na verdade, um cinturão localizado próximo a essa zona aqui descrita. Visto desde esse planeta, Capela apareceria como dois sóis com brilho total equivalente ao da Terra (Fig. 2). O outro par de estrelas do sistema, por estar muito afastado, brilhariam como estrelas comuns no céu e teriam um movimento aparente muito lento por causa da grande distância de separação. É fascinante antever as perspectivas de vida nesse sistema que dista aproximadamente 42 anos-luz da Terra.

Fig. 3 Ilustração de um JavaApplet disponível na Ref. 5 ilustrando a zona de possibilidade de um planeta habitável no sistema de Capela, possível morada dos capelinos. A ciência presente não dispõe de instrumentos ou métodos de detectar esse planeta. A tabela  apresenta a distância orbital de cada elemento em relação ao centro gravitacional do sistema.
Conclusão

À guisa de conclusão final, consideramos:
  1. É verdade que não existem evidências sobre a existência de um planeta ao redor do sistema de Capela, mas isso ocorre por causa da dificuldade muito grande de sua detecção. Presentemente, a ciência astronômica consegue detectar planetas 'grandes' ou que estejam em condições de alinhamento especiais para sua observação indireta;
  2. Sistemas múltiplos podem portar planetas. De fato, garantidas as condições especiais acima descritas. Por exemplo, já se reportou a descoberta de planetas em sistemas de três estrelas (17);
  3. O sistema de Capela não é 'instável' nem apresenta 'tremendas instabilidades' como afirmado em 'Kardec e os Exilados';
  4. Os relatórios científicos sobre o sistema de Capela e o conhecimento de nossa época (descoberta de inúmeros planetas ao redor de muitas estrelas próximas) são muito mais favoráveis à existência do planeta do que à sua não existência;
  5. Os argumentos apresentados não invalidam assim a existência de um planeta do tipo terrestre no 'sistema de Capela', fato que poderá ser confirmado no futuro, assim que a ciência astronômica evoluir em seus métodos de detecção;
É um princípio importante da Doutrina Espírita que devemos submeter ao crivo da razão, da lógica e do conhecimento positivo o ensinamento dos Espíritos. O 'rigor Kardequiano' pede que se analise com profundidade os dados positivos, sem 'tendenciosismos' de qualquer espécie.

Além disso, também é urgente e ainda mais necessário que esse mesmo critério seja igualmente aplicado aos vivos segundo o corpo, que também podem ser presa de suas próprias ideias por mecanismos ainda desconhecidos de auto mistificação.

Para saber mais: Muitos mundos, muitas vidas: uma heresia que se torna realidade.

Referências

(1) Kardec e os Exilados. Blog espiritoverdade.com.br.
(2) O Evangelho Segundo o Espiritismo. Introdução, II.
(3) A Caminho da Luz. III. As raças adâmicas. 18a edição, FEB.
(4) Ref. 1, 6o parágrafo.
(5) O assunto é muito complexo e não pode ser escopo deste post. Para informações detalhadas ver: Wright J. T., Gaudi B. S. (2012), Exoplanet Detection Methods, arXiv:1210.2471. Essencialmente, há um limite inferior de massa para detecção de planetas e a Terra está na fronteira desse limite. Em particular a Fig. 5 do artigo citado mostra a distribuição de limites de detecção para vários métodos existentes em 2012.
(6) Ver site Capella 4, Sol Company. Texto original em inglês: "Astronomers would find it very difficult to detect an Earth-type planet in the water zone of this binary using present methods."
(7) Ref. 1, 6o. parágrafo.
(8) Ref. 1, 7o. parágrafo.
(9) Graziani, F. & Black, D. C, (1981), Orbital stability constraints on the nature of planetary systems, Astrophysical Journal, Part 1, vol. 251, Dec. 1, p. 337-341.
(10) Esse fato já era conhecido em 1919 com base em observações interferométricas. Interessantemente, em 'A Caminho da Luz' , o Capítulo III tem como subtítulo 'O Sistema de Capela';
(11) Ver site Capella 4, Sol Company. Texto original em inglês: "During the relatively brief, combined giant phases of the two stars at present, however, a planet could orbit the Aab pair far enough out for the two stars to act as a single gravitational source and near enough for it to receive enough energy to sustain life, possibly around 12.5 AUs out from the binary."
(12) 1 Unidade Astronômica equivale à distância entre a Terra e o Sol ou aproximadamente 150 milhões de quilômetros.
(13) Ref. 1, 8o parágrafo.
(14) Ref. 1, 7o parágrafo.
(15) O texto da Wiki para o verbete Capella diz: "In addition to the stars mentioned above, Capella has six additional visual companions—that is, stars which appear to be close to Capella in the sky. However, they are not thought to be physically close to Capella". Outra referência: Burnham's Celestial Handbook: An Observer's Guide to the Universe Beyond the Solar System, Robert Burnham, Courier Dover Publications, 1978, ISBN 0-486-23567-X; ver vol. 1, p. 264;
(16) Isto é, cálculos e suposições que determinam o nível de energia irradiada presente ao redor das estrelas.
(17) 'Novo planeta descoberto em um sistema trinário'. (Universe today). O planeta em Gliese 667C levou cerca de 10 anos para ser achado. Portanto, a descoberta de 'exoplanetas' não é uma atividade trivial.

1 de fevereiro de 2013

Pequena reflexão depois de uma morte coletiva.

Durante a vida, o homem tudo refere ao seu corpo; entretanto, de maneira diversa pensa depois da morte. Ora, conforme temos dito, a vida do corpo bem pouca coisa é. Um século no vosso mundo não passa de um relâmpago na eternidade. Logo, nada são os sofrimentos de alguns dias ou de alguns meses, de que tanto vos queixais. Representam um ensino que se vos dá e que vos servirá no futuro. Os Espíritos, que preexistem e sobrevivem a tudo, formam o mundo real. Esses os filhos de Deus e o objeto de toda a Sua solicitude. Os corpos são meros disfarces com que eles aparecem no mundo. Por ocasião das grandes calamidades que dizimam os homens, o espetáculo é semelhante ao de um exército cujos soldados, durante a guerra, ficassem com seus uniformes estragados, rotos, ou perdidos. O general se preocupa mais com seus soldados do que com os uniformes deles.” (A. Kardec, (1))

Nenhuma dor pode ser maior do que aquela de uma mãe ou pai ao descobrir a morte de um filho. Não que outras dores ou que a dor de outros familiares possa ser desprezada. Há uma tristeza solene na contemplação do corpo da criança ou do jovem falecido por uma tragédia que não se pode evitar, diante do tempo que não se pode fazer retroceder! E, depois, a saudade a fustigar infinitamente aquela mãe ou pai que, condenado a uma ausência aparentemente perpétua, pensa que jamais poderá ver o seu maior bem.

Embora o fenômeno da morte seja na aparência apenas mais um no concerto de fenômenos naturais e orgânicos, ele se torna justamente o que é pelos laços de afinidade e mútua estima que ligam indivíduos, famílias, coletividades e até países. Essa forças, não obstante invisíveis, são muito fortes para serem desprezadas. A dor da descontinuidade por conta da perda daquele ente amado é superlativa demais para não merecer devida explicação no conjunto das ocorrências naturais que nos cercam. Em vão os propagandistas do niilismo dirão que são forças subjetivas e que apenas a cega lei do acaso impera.

Quando, porém, a morte se dá em grande número, então essa necessidade de uma explicação se torna máxima. Não é difícil entender que, se grande número de pessoas são submetidas as mesmas condições extremas que ameaçam o fluxo vital de seus organismos,  então a condição necessária para as mortes coletivas se forma. Muitos dos que pregam a ilusão pura dos sentidos acreditam que isso é tudo que se pode dizer sobre o assunto.

Mas não! É justamente na constatação do intercâmbio incessante, natural ou provocado, entre dois planos da vida que uma imagem do mundo se levanta como um novo sol a aquecer e prover energia a todos. À princípio timidamente, para então se transformar numa grande realidade, a continuidade da vida após a morte - razão fundamental de todos os cultos -  é a grande consolação para os que aqui permanecem temporária e fisicamente separados daqueles que se foram e para onde gravitam todas os homens, independente de suas crenças.

A certeza da continuidade que se obtém ao se ter o mérito de contactar um filho amado depois da grande separação jamais poderá ser igualada a simples crença nessa possibilidade. Isso distingue o Espiritismo de outras doutrinas e concepções religiosas que apenas poderão fornecer uma vaga certeza, quase sempre ameaçada por outras expectativas de separação definitiva.

Antes, porém, de se buscar por uma causa para uma ocorrência de morte coletiva, meditemos no próprio significado da realidade que aguarda a todos mais além:
  • Certeza de um novo encontro;
  • Possibilidade de comunicação;
  • Separação temporária e não definitiva;
  • Vida que continua e não fim de linha;
  • Possibilidade de recomeço em plano mais elevado;
Por isso, antes também de se concluir pela aparente dureza do destino ou da lei natural, convém considerar que nossas concepções de justiça são obviamente adaptadas à nossa apreensão severamente limitada da realidade e da nossa própria existência transitória...

A sobrevivência além-túmulo elimina assim uma descontinuidade. Aprendendo a enxergar com essa perspectiva mais ampliada da vida, alcançamos um novo nível de justiça e tolerância à morte.

A perspectiva da sobrevivência abranda o peso da morte de todas as formas:  individual, seja na suave paz da consciência tranquila que experimenta o grande fim após uma existência bem vivida ou na triste dor da separação que parece imposta;  ou coletiva, na imperceptível lista dos que morrem todos os dias separadamente ou dos milhares que às vezes partem juntos e assustados diante de uma ocorrência que não puderam prever.

"Venha por um flagelo a morte, ou por uma causa comum, ninguém deixa por isso de morrer, desde que haja soado a hora da partida. A única diferença, em caso de flagelo, é que maior número parte ao mesmo tempo".(2) De um jeito ou de outro todos se ausentarão em definitivo - o que torna ainda mais relativa os julgamentos precipitados dos que condenam o destino ou uma aparente falta de Deus após episódios de mortes coletivas. "O general se preocupa mais com seus soldados do que com os uniformes deles" diz a mensagem dos Espíritos a ressaltar o destino de felicidade de todos os seres.

Se o final não pareceu feliz, então é porque ele não foi verdadeiramente um final...

Referências

(1) "O Livro dos Espíritos", Resposta à questão #738a (texto www.ipeak.com.br);
(2) "O Livro dos Espíritos", Resposta à questão #738b, segundo parágrafo (texto www.ipeak.com.br).