30 de julho de 2014

Sobre o blog "Forbidden Histories" (de Andreas Sommer)


Embora o Espiritismo, como movimento semelhante ao que existe no Brasil, ainda tenha pequena expressão no exterior, já é possível considerar como espíritas muitos escritores fora do Brasil que nunca ouviram falar em Allan Kardec ou Chico Xavier. Isso é uma prova de que a doutrina é universal, a despeito das vozes contrárias, que insistem em afirmar que o Espiritismo é algo "brasileiro". Não é. O conhecimento espírita é universal porque descreve um conjunto de leis naturais. No seu aspecto científico, podemos tratar o conteúdo espírita como uma ciência natural. Quem fala em "ciência" não pode se esquecer da filosofia. As bases empíricas do Espiritismo, junto a sua teoria, estão em simbiose com a contraparte filosófica. Talvez, no Espiritismo, possamos retornar ao ideal da "filosofia natural", uma filosofia sobre as leis que verdadeiramente regem o comportamento dos seres entendidos como preexistentes à matéria de que se revestem temporariamente. 

Como sabemos disso? É que nossa época testemunha uma explosão de sites e recursos da rede fora do Brasil sobre os assuntos relacionados à mediunidade, reencarnação, experiências de quase morte etc. É como se os temas espíritas estivessem pululando em diferentes partes do planeta, discutidos e apresentados por um pequeno porém esforçado exército de voluntários. 

Um exemplo é o blog "Forbidden Histories" (http://forbiddenhistories.wordpress.com/) do meu colega Andreas Sommer. O blog tem como subtítulo: "Tudo que você sempre quis saber sobre ciência e o 'miraculoso' (mas tinha medo de perguntar)". Sommer é alemão, porém, tem uma posição de historiador na Universidade de Cambridge e, recentemente, foi designado para dar um curso sobre a "psicologia na história". É um estudioso da história do Espiritualismo e tem escritos textos muito interessantes sobre o impacto da fenomenologia mediúnica na Alemanha no século XIX (1).

Alguns textos interessantes que Sommer postou foram:
Segundo A. Sommer, personalidades ilustres do mundo da ciência tais como Kurt Gödel (esquerda) e Wolfang Pauli  (direita) se interessaram por mediunidade de efeitos físicos.
O  concluímos com esses reportes? Conforme Sommer declara no texto de boas vindas de seu blog:
O que talvez te surpreenda é que cada um desses ícones científicos nomeados acima e muitos outros de mesma posição consideravam o "sobrenatural" muito seriamente.
Segundo Sommer, tal situação mudou radicalmente apenas nas últimas décadas, o que resultou em uma verdadeira exclusão desses assuntos da academia. Isso constitui as bases para "histórias proibidas" sobre as quais Sommer se dispõe a contar em seu blog de forma algo irreverente. 

Referências

(1) Veja, por exemplo, alguns títulos de capítulos de livro por A. Sommer:
  • (2013). Spiritualism and the origins of modern psychology in late nineteenth-century Germany. The Wundt-Zöllner debate. In C. M. Moreman (Ed.), The Spiritualist Movement: Speaking with the Dead in America and Around the World (Vol. 1, pp. 55-72). Santa Barbara, CA: Praeger;
  • (2006). Die akademische Psychologie am Scheideweg: Positivistische Experimentalpsychologie und die Nemesis der Transzendenz. In A. Büssing, Ostermann, T. Glöckler, M., Matthiesen, P.F. (Ed.), Spiritualität, Krankheit und Heilung – Bedeutung und Ausdrucksformen der Spiritualität in der Medizin (pp. 183-217). Frankfurt a.M.: Verlag für Akademische Schriften. 

19 de julho de 2014

Artigo acadêmico sobre a acuidade mediúnica de Chico Xavier


A revista Explore (1) publicou um artigo de autoria de Alexandre Caroli Rocha, Denise Paraná, Elizabeth Schmitt Freire, Francisco Lotufo Neto e Alexander Moreira-Almeida contendo um interessante estudo sobre as cartas psicografadas de Chico Xavier.

Intitulado "Investigating the Fit and Accuracy of Alleged Mediumistic Writing: A Case Study of Chico Xavier’s Letters"  ("Investigando a adequação e acuidade da alegada escrita mediúnica: um estudo de caso das cartas de Chico Xavier"), o trabalho realizou uma análise, por meio de 13 cartas, do grau de acuidade da informação nelas contida frente à probabilidade do médium ter sido informado por meios considerados "normais". Como resultado, os autores declaram:
Identificamos 99 itens de informação verificável nessas 13 cartas; 98% deles foram classificados como "Adequação clara e precisa" e nenhum item como "Não adequado". Concluímos que explicações normais para tal acuidade de informação (i. e., fraude, sorte, vazamento de informação e leitura fria) são apenas remotamente plausíveis. Esses resultados parecem fornecer apoio empírico para teorias não reducionistas da consciência. (2)
O texto completo do artigo pode ser baixado aqui: http://www.explorejournal.com/article/S1550-8307(14)00108-6/abstract (é necessário autorização). O trabalho teve o apoio da FAPESP (3, processo 2010/11047-0).

Referências

(1) http://www.explorejournal.com/article/S1550-8307(14)00108-6/abstract

(2) Texto original em inglês: "We identified 99 items of verifiable information conveyed in these 13 letters; 98% of these items were rated as “Clear and Precise Fit” and no item was rated as “no Fit.” We concluded that normal explanations for accuracy of the information (i.e., fraud, chance, information leakage, and cold reading) were only remotely plausible. These results seem to provide empirical support for non-reductionist theories of consciousness."

(3) Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo: http://www.fapesp.br/

11 de julho de 2014

Questões preocupantes em relação à regressão hipnótica (Por Ian Stevenson*)

Espíritas já conhecem a opinião de muitas autoridades espirituais com relação à regressão de memória usada em buscas por vidas anteriores. Aqui apresentamos a tradução para o português de uma declaração do Dr. Ian Stevenson sobre o tema que vale a pena também ser considerada. As recomendações de Stevenson mostram seu interesse na pesquisa séria com regressão hipnóticas e são céticas com relação a resultados reportados usualmente.

Fonte: "Concerns about Hypnotic Regression. Hypnotic Regression to Previous Lives. A Short Statement by Ian Stevenson", M.D;.:
Regressão hipnótica a vidas anteriores: uma breve declaração.
Ian Stevenson, M. D.
O seguinte texto foi escrito num esforço de resposta a um grande número de cartas que recebi de pessoas desejosas de serem levadas por mim, via hipnose, a vidas anteriores, que gostariam que eu as recomendasse a um hipnólogo ou que eu investigasse materiais que eventualmente tenham emergido de tais experiências.
Muitas pessoas que não dão qualquer importância ao que ocorrem em seus sonhos (imaginando não serem nada mais que imagens da mente subconsciente, sem correspondência com qualquer outra realidade) acreditam bastante que qualquer coisa que emerja durante uma sessão de hipnose pode ser tomado em seu valor de face. De fato, o estado de uma pessoa durante uma hipnose se assemelha bastante - embora não completamente - ao de uma pessoa enquanto sonha. Partes subconscientes da mente são liberadas das inibições ordinárias e podem se apresentar de forma dramática como uma nova "personalidade". Se o paciente foi instruído pelo hipnotista - explicita ou implicitamente - a "voltar para um outro lugar e tempo" ou coisa parecida, a nova "personalidade" parecerá voltar a algum período da história. Tais "personalidades evocadas" podem se mostrarem bastante plausíveis tanto para a pessoa tendo a experiência com para aqueles que a assistem. Experimentos feitos por Baker [1] e Nicholas Spanos et al [2] mostraram como é fácil que sugestões diferentes do hipnotista influenciem as características da "outra personalidade".

De fato, quase todas essas "personalidades anteriores" são totalmente imaginárias, assim como o conteúdo da maioria dos sonhos. Podem talvez retornar detalhes históricos precisos, mas esses são derivados da informação que o sujeito tinha de suas leituras, de programas de rádio e televisão, além de outras fontes. O sujeito pode não se lembrar onde ele obteve aquela informação, mas, muitas vezes, isso pode ser conseguido em outras sessões de hipnose feitas para buscar por tais fontes de informação. Experimentos feito por E. Zolic [3], R. Kampman e R. Hirvenoja [4] demonstraram esse fenômeno. 

Uma experiência emocional marcante durante a regressão hipnótica não garante que as memórias de vidas anteriores tenham sido readquiridas. A impressão subjetiva de lembrança de uma existência anterior pode ser marcante para a pessoa que a experimenta, e, mesmo assim, a "vida anterior" uma fantasia, assim como muitos sonhos. Também, o benefício (mesmo na forma de uma melhora dramática) em sintomas físicos e psicológicos não é evidência que uma vida anterior tenha sido acessada. 

Pessoas com sintomas psicossomáticos e psiconeuroses podem se reabilitar ao seguir uma grande variedade de procedimentos psicoterapêuticos. Há muitos efeitos relacionados a procedimentos psicoterapêuticos. Melhoras podem ser decorrentes exclusivamente dessas medidas e pouco se relacionarem com uma técnica específica, seja regressão hipnótica, psicoanálise ou qualquer outra aplicada pelo psicoterapeuta. 

Vale a pena enfatizar que crianças muito novas que se lembram de vidas anteriores frequentemente apresentam fobias, tais como medo de água e se lembram do evento que parece ter gerado essa fobia, tal como morte por afogamento. Mesmo assim, a simples lembrança da causa de uma fobia ou outro sintoma não necessariamente irá removê-lo. 

Pessoas que pretendem realizar regressão hipnótica devem se perguntar: que benefícios irei colher ao tentar facear minhas presentes dificuldades se eu me lembrasse de algo de alguma forma a ela relacionado em uma vida anterior? Será que minha lembrança, ainda que real, removeria essas dificuldades?

Após essa breve introdução, que não cobre completamente todos os aspectos complexos da questão, eu gostaria de mencionar que, muito raramente, algo de valor emerge de experimentos com regressão hipnótica a "vidas anteriores". Exemplos são quando o indivíduo mostra ser capaz de falar em uma língua estrangeira que ele não aprendeu.

O procedimento de regressão hipnótica a "vidas anteriores" não acontece sem algum risco. Ocasiões houve em que a "personalidade anterior" não "foi embora" quando assim instruída, e o indivíduo permaneceu em um estado alterado de consciência por muitos dias ou mais antes de voltar ao seu estado normal.

Não estou presentemente engajado em experimentos de regressão hipnótica a vidas anteriores. Não faço recomendação de hipnólogos a pessoas que pretendem passar por tais experiências. Não aprovo a conduta de hipnotistas que fazem promessas a seus clientes de que esses voltarão a vidas anteriores reais sob tais procedimentos. Não aprovo quem quer que seja que cobre e se faça passar por um hipnotista para realizar tais experimentos. 

Não realizo verificações de detalhes que emerjam de tais experiências, exceto em casos extremamente raros que me mostrem evidência clara de um processo paranormal. Ocasiões de xenoglossia responsiva (falar uma língua não aprendida) estão incluídos nesse pequeno número de casos que estou interessado em investigar. 

Embora me oponha à exploração comercial de reivindicações sem garantias da regressão hipnótica, sou favorável à pesquisa séria com regressão hipnótica. 

As observações acima aplicam-se com algumas modificações a experimentos amadores com pranchetas e escrita automática. Em tais experiências, as pessoas envolvidas nada mais fazem do que tocar as camadas subconscientes da mente de um ou mais participantes. A chance de engano ou auto engano são talvez maiores do que com experimentos de hipnose, especialmente quando as pessoas que fazem isso se convencem que estão sendo guiadas por personalidades desencarnadas. Aqui, de novo, em alguns casos, um processo paranormal está envolvido nos resultados e, raramente, produzem evidência sugestiva de contato com personalidades desencarnadas. Mas, na maioria dos casos, tais evidências estão ausentes.

Para mais informações e referências a artigos e livros baseados em investigações científica em apoio a minha posição com relação a tais casos, indico o meu livro "Children Who Remember Previous Lives" [5]. Também publiquei "A Case of the Psychotherapist's Fallacy: Hypnotic Regression to 'Previous Lives" [6]. Cópias desses artigos estão disponíveis em várias publicações.

Se este texto não responder adequadamente as questões do leitor, teremos prazer em responder cartas requisitando mais informação. Por favor, as questões devem ser escritas de forma bem específica.  
_____________________________
Referências

[1] Baker, R.A. "The effect of suggestion on past-lives regression." American Journal of Clinical Hypnosis, 25(1), 71-76, July 1982.
[2] Spanos, N.P., Menary, E., Gabora, N.J., DuBreuil, S.C., Dewhirst, B. "Secondary identity enactments during hypnotic past-life regression: A sociocognitive perspective." Journal of Personality and Social Psychology, 61(2), 308-320, 1991.
[3] Zolik, E. "Reincarnation' phenomena in hypnotic states." International Journal of Parapsychology, 4(3), 66-78, 1962.
[4] Kampman, R. and Hirvenoja, R. "Dynamic relation of the secondary personality induced by hypnosis to the present personality" in Hypnosis at Its Bicentennial, edited by F.H. Frankel & H.S. Zamansky. New York: Plenum Press. 1978
[5] Jefferson, North Carolina: McFarland & Company, 2001.
[6] American Journal of Clinical Hypnosis. Volume 36, pages 188-193, 1994

(*) O Dr. Ian Stevenson (1918-2007) foi um psiquiatra que trabalhou para a School of Medicine da Universidade de Virgínia por 50 anos. Ele foi chair do departamento de psiquiatria de 1957 a 1967, professor Carson de psiquiatria de 1967 a 2001 e professor pesquisador em psiquiatria a partir de 2002 até sua morte. Foi fundador e diretor da "Divisão de estudos de percepção" da Universidade de Virgínia, que investiga fenômenos paranormais tais como reencarnação, experiências de quase morte, experiências fora do corpo, comunicações mediúnicas, visões de leito de morte, estados alterados de consciência e psi. Tornou-se internacionalmente reconhecido por sua pesquisa em reencarnação, ao descobrir evidências sugestivas de memórias e marcas de nascença que podem ser transferidas de uma vida a outra. Viajou bastante, por um período de 40 anos, investigando 3000 casos de crianças em todo o mundo que se lembram de suas vidas anteriores. Sua pesquisa meticulosa apresentou evidências que tais  crianças têm habilidades incomuns, doenças, fobias e gostos que não podem ser explicados pelo ambiente ou pela hereditariedade. (fonte: Kevin Williams)