25 de fevereiro de 2016

Arquivos históricos com imagens de periódicos espiritualistas antigos.

Imagem  do "Almanaque del Espiritismo", edição de 1873 (ano I) editado em Madri (1).
Fonte: Biblioteca Nacional de Espanha.

A IAPSOP (2, International Association for the Preservation of Spiritualist and Occcult Periodicals) ou "Associação Internacional para preservação de periódicos espiritualistas e de ocultismo" disponibiliza uma página na internet com diversas imagens de periódicos antigos e raros relacionados aos temas espiritualistas. 

O acesso se dá por um link em língua inglesa:

http://www.iapsop.com/archive/materials/index.html (acesso em Fevereiro de 2016)

Dentre as preciosidades, podemos acessar:


dentre outros. Tais referências são fontes relevantes para pesquisadores em diversas áreas e representam memória importante, em particular, para o movimento espírita e espiritualista ao longo dos séculos XIX e XX.

Agradeço ao Chyristiann Lavarini por nos comunicar o link.


Referências

1 -Ver:
 http://www.iapsop.com/archive/materials/almanaque_del_espiritismo/almanaque_del_espiritismo_1873.pdf
2 - http://www.iapsop.com/ (acesso em fevereiro de 2016)

5 de fevereiro de 2016

O texto mais importante do "Evangelho segundo o Espiritismo"

"A luz do Tabor". C. H. Bloch (1800).
O consolador... ele vos ensinará todas as 
coisas e vos fará lembrar tudo o que disse. (João, 14:26)

O que o homem destroi ou mata, 
a lei de Deus (que é a lei da Natureza) 
recria e reconstrói em outro lugar.

Qual é o texto mais importante no "Evangelho segundo o Espiritismo" (ESE)? Por "importância" entendemos um grau de relevância que certamente depende do momento que vivemos. Sugerimos aqui a leitura de um texto exemplar, motivado não só pelos ataques terroristas recentes em nome da religião, mas também pelos sempre presentes problemas humanos da sobrevivência e significado da vida.

Lançado por Allan Kardec em 1864 como uma nova interpretação dos Evangelhos, o "Evangelho segundo o Espiritismo" (ESE) (em frances L'Évangile Selon le Spiritisme) é um compêndio de máxima de Cristo interpretadas de acordo com o ensinamento dos Espíritos no contexto dos movimentos espírita e espiritualista que apareceram na Europa no último quartel do século XIX.  

Mas aqui um situação curiosa se nos apresenta. Os ensinos dos Espíritos sempre foram rejeitados pela imensa maioria das denominações cristãs (protestantes e católicas), tanto com base nas implicações desses ensinos (aceitação da reencarnação, por exemplo, é vista como a negação desses credos), como nas proibições existentes no Velho Testamento de se invocar Espíritos. Se Espíritos não podem ser invocados é porque eles existem, mas, ainda assim, a proibição foi mantida como um dogma que contrasta claramente com tantos outros abandonados pela sociedade moderna. Além disso, a internet complicou ainda mais a situação porque agora podemos contactar muitas outras pessoas ao redor do planeta, pessoas que pertencem a culturas com ideias muito diferentes em questão de religião, o que reduz ainda mais a importância de se manter uma postura dogmática.

Ao invés disso, o ensino dos Espíritos expõe o ridículo e o erro das interpretações presentes dos ensinos de Cristo e de muitas outras religiões dogmáticas que vieram depois. O Espiritismo é o novo consolador, o "advogado" que veio para restabelecer todas as coisas e relembrar o que Cristo disse, mas que foi esquecido. Avanços na ciência tornaram tópicos como mediunidade e reencarnação possibilidades tangíveis a continuamente ameaçar religiões estabelecidas de base dogmática. Que visão religiosa poderia atualizar o pensamento diante das conquistas da ciência? Que nova doutrina pode fornecer bases sólidas para a aceitação dos ensinos de Cristo depois de tantas interpretações equivocadas? 

ESE Capítulo 2: Meu Reino não é deste Mundo. "Um ponto de vista". 

Na seção que abre o Capítulo 2 ("Meu Reino não é deste Mundo"), "A Vida Futura", Kardec esclarece porque o assunto desse capítulo é de maior importância:
Esse princípio pode, portanto, ser tomado como o eixo do ensino do Cristo, pelo que foi colocado num dos primeiros lugares a frente desta obra. É que ele tem de ser o ponto de mira de todos os homens; só ele justifica as anomalias da vida terrena e se mostra de acordo com a justiça de Deus. 
Aceitar e entender bem a vida futura é um ponto crucial, uma "bifurcação" de pensamento que está destinada a mudar a Humanidade para sempre. Sem considerar a falta de aceitação universal desse princípio, a sobrevivência é a única possibilidade de acordo com a Justiça Divina ("Ninguém poderá ver o Reino de Deus se não nascer de novo", ESE Capítulo 4 e Fig. 1).  A outra opção é o materialismo e a não existência eterna. Com a certeza na vida futura - assim como os detalhes de sua realidade ("de uma maneira clara e precisa") - fornecida de forma científica, a Humanidade alcança um novo patamar, uma nova compreensão da vida bem como outro objetivo.

Fig. 1 A noção da reencarnação é a chave para se reestabelecer o significado original dos ensinamentos de Cristo e para se sustentar a ideia básica da justiça Divina, não importa sua consequência para o dogma estabelecido. Ver ESE, Capítulo 4. O que o homem destrói e mata, a lei de Deus (que é a lei natural) recria e reconstrói em outra parte. 

O texto abaixo intitulado "Ponto de Vista" foi escrito por Kardec e representa uma argumentação brilhante que sumariza as consequências e as implicações lógicas da sobrevivência. Lembramos que esse texto foi escrito antes de 1864, portanto antes da fundação da "Sociedade de Pesquisa Psíquica" em Londres pelos pais fundadores da pesquisa psíquica ou do movimento teosófico. Esse trecho do ESE testifica a profundidade de pensamento de Kardec já no terceiro quartel do século XIX como conclusão de sua própria pesquisa no assunto.
A ideia clara e precisa que se faça da vida futura proporciona inabalável fé no porvir, fé que acarreta enormes consequências sobre a moralização dos homens, porque muda completamente o ponto de vista sob o qual encaram eles a vida terrena. Para quem se coloca, pelo pensamento, na vida espiritual, que é indefinida, a vida corpórea se torna simples passagem, breve estada num país ingrato. As vicissitudes e tribulações dessa vida não passam de incidentes que ele suporta com paciência, por sabê-las de curta duração, devendo seguir-se-lhes um estado mais ditoso. À morte nada mais restará de aterrador; deixa de ser a porta que se abre para o nada e torna-se a que dá para a libertação, pela qual entra o exilado numa mansão de bem-aventurança e de paz. Sabendo temporária e não definitiva a sua estada no lugar onde se encontra, menos atenção presta às preocupações da vida, resultando-lhe daí uma calma de espírito que tira àquela muito do seu amargor. 
Pelo simples fato de duvidar da vida futura, o homem dirige todos os seus pensamentos para a vida terrestre. Sem nenhuma certeza quanto ao porvir, dá tudo ao presente. Nenhum bem divisando mais precioso do que os da Terra, torna-se qual a criança que nada mais vê além de seus brinquedos. E não há o que não faça para conseguir os únicos bens que se lhe afiguram reais. A perda do menor deles lhe ocasiona causticante pesar; um engano, uma decepção, uma ambição insatisfeita, uma injustiça de que seja vítima, o orgulho ou a vaidade feridos são outros tantos tormentos, que lhe transformam a existência numa perene angústia, infligindo-se ele, desse modo, a si próprio, verdadeira tortura de todos os instantes. Colocando o ponto de vista, de onde considera a vida corpórea, no lugar mesmo em que ele aí se encontra, vastas proporções assume tudo o que o rodeia. O mal que o atinja, como o bem que toque aos outros, grande importância adquire aos seus olhos. Àquele que se acha no interior de uma cidade, tudo lhe parece grande: assim os homens que ocupem as altas posições, como os monumentos. Suba ele, porém, a uma montanha, e logo bem pequenos lhe parecerão homens e coisas. 
É o que sucede ao que encara a vida terrestre do ponto de vista da vida futura; a Humanidade, tanto quanto as estrelas do firmamento, perde-se na imensidade. Percebe então que grandes e pequenos estão confundidos, como formigas sobre um montículo de terra; que proletários e potentados são da mesma estatura, e lamenta que essas criaturas efêmeras a tantas canseiras se entreguem para conquistar um lugar que tão pouco as elevará e que por tão pouco tempo conservarão. Daí se segue que a importância dada aos bens terrenos está sempre em razão inversa da fé na vida futura.
Mas "se toda a gente pensasse dessa maneira, dir-se-ia, tudo na Terra periclitaria, porquanto ninguém mais se iria ocupar com as coisas terrenas" continua Kardec, como que prevendo uma contra-argumentação na forma de um moderno mergulho na "idade das trevas" com a aceitação da sobrevivência. Contra isso, Kardec considera: 
Não; o homem instintivamente, procura o seu bem-estar e, embora certo de que só por pouco tempo permanecerá no lugar em que se encontra, cuida de estar aí o melhor ou o menos mal que lhe seja possível. Ninguém há que, dando com um espinho debaixo de sua mão não a retire, para se não picar. Ora, o desejo do bem-estar força o homem a tudo melhorar, impelido que é pelo instinto do progresso e da conservação, que está nas leis da Natureza. Ele, pois, trabalha por necessidade, por gosto e por dever, obedecendo, desse modo, aos desígnios da Providência que, para tal fim, o pôs na Terra. Simplesmente, aquele que se preocupa com o futuro não liga ao presente mais do que relativa importância e facilmente se consola dos seus insucessos, pensando no destino que o aguarda. (Parágrafo 6)
Além da defesa de Kardec do bem estar do homem citado acima, poderíamos acrescentar a importância de se compreender bem as condições operacionais da vida futura. Pois ela não é um estado conseguido de graça, não pode ser igualada à entrada em um paraíso ou, do contrário, a um estado de eterna separação do bem eterno conforme ainda ensinam muitas concepções cristãs. O esforço contínuo que a alma deve fazer para progredir torna cada segundo bem gasto nesta vida material uma benção e uma oportunidade que nunca deve ser desprezada. Para Espíritos ainda em evolução - uma condição de praticamente toda a Humanidade - a vida futura é, de certa forma, uma garantia de retorno à vida material, de forma que quanto mais o ser se dedica a melhorar a si mesmo, ajudando os outros, tanto mais rápido ele é capaz de se libertar deste mundo. Do contrário, quanto mais uma pessoa susta o progresso destruindo, matando ou prejudicando seu próximo, tanto mais lenta será sua capacidade de lidar com a vida futura: ele terá que restituir tudo o que destruiu porque assim exige a lei Natural.

Não existe avanço instantâneo da alma, não há entrada fácil na "Glória Eterna" e isso é, compreensivelmente, bastante combatido pelo pensamento cristão tradicional. Entretanto, é ainda mais claro que a vida futura, entendida em dimensão mais dilatada, dificilmente imporá à Humanidade um retorno a uma idade de descuidados com a vida material. Ao invés disso, a evolução requer cuidado e atenção com a presente vida em todos os aspectos, tanto morais como materiais. 

Referências

(1) A. Kardec. "O Evangelho segundo o Espiritismo. As citações do ESE apresentadas neste texto foram reproduzidas de versões do site www.ipeak.com.br.