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12 de julho de 2022

Tradução de "Gintanjali" pelo blog Era do Espírito

Capa da tradução de "Gitanjali" lançada em agosto de 2022. 
Baixe o PDF aqui.

Lançamos hoje uma versão online de uma tradução que fizemos da obra Gitanjali de Rabindranath Tagore. Já comentamos aqui uma obra psicografada por Divaldo Franco do famoso poeta indiano. Essa obra chamou nossa atenção para Gitanjali, publicado em 1914 e disponível em acesso público em [1].

Uma tradução do título desse conjunto de poemas, que deu a Tagore o prêmio Nobel de literatura em 1913, é "Oferenda de canção". É uma referência aos cultos hinduístas em que presentes são colocados nos altares de seus muitos deuses. O poeta aqui também faz sua oferenda, só que na forma de "canções" que falam ao coração.

Não é muito difícil perceber a presença do Espiritismo velado nesses poemas. Vejamos alguns exemplos:

Saí no carro do primeiro raio de luz e prossegui minha viagem pelas vastidões dos mundos, a deixar meus rastros em muitas estrelas e planetas. (Poema 12, 2)

É a alma que vive na pluralidade dos muitos mundos habitados a existir nas vastidões universais. 

Dia após dia me fazes merecedor de regalos simples e pequenos que me concedes sem perguntar – esse céu e a luz, esse corpo, a vida e o espírito – poupando-me dos perigos dos desejos em excesso. (Poema 14, 2)

É a alma que deve aprender a se contentar com os presentes aparentemente simples e pequeninos que a Divida Providência lhe dispensa a cada dia.

Não seriam estes os pássaros de Tagore que foram recontados em sua obra "Pássaros Livres" pelo médium Divaldo Franco?

Então, tuas palavras tomarão asas nas canções de cada um dos ninhos de meus pássaros, e tuas melodias brotarão em flores de todos os meus bosques. (Poema 19, 3)

São as referências a Deus na figura do grande amado:

És tu quem lança o véu da noite sobre os olhos combalidos do dia para renovar sua visão nas frescas alegrias do despertar. (Poema 25, 3)

Tu não desdenhaste minhas brincadeiras infantis na poeira, e os passos que ouvi em minha sala de jogos são os mesmos que ecoam entre as estrelas. (Poema 43, 3)

Ou uma referência à bravura que a alma encarnada deve ter para viver bem, tendo como companheira a morte como grande libertação:

De agora em diante, medo algum cairá sobre mim neste mundo, e tu sairás vitorioso em todas as minhas batalhas. Deixaste-me a morte por companheira e eu a coroarei com minha vida. Tua espada está comigo para cortar meus grilhões e nenhum medo cairá sobre mim neste mundo. (Poema 52, 4)

E onde mais, se  não no plano espiritual superior, seria possível encontrar esta descrição de pátria:? 

Onde o espírito é destemido e a fronte se mantém erguida;
Onde o conhecimento é livre;
Onde o mundo não se divide em fragmentos desde as estreitas paredes do lar;
Onde as palavras nascem das profundezas do mais verdadeiro;
Onde o inesgotável empenho lança seus braços em direção à perfeição;
Onde a corrente cristalina da razão não se perde pelos cursos dos tristes desertos de areia dos hábitos desfalecidos;
Onde o espírito é conduzido por ti na direção da ação e do pensamento sem limites - 
Dentro desse céu de liberdade, oh meu Pai, faz com que aí se erga a minha pátria. (Poema 35)

Para baixar o PDF com a tradução, basta clicar aqui ou na referência apresentada na figura acima. A tradução também pode ser encontrada na aba "Livros do blog".

Referências

[1] Gitanjali by Rabindranath Tagore: https://www.gutenberg.org/ebooks/7164 

3 de junho de 2015

Divaldo Franco e Rabindranath Tagore

Esta vida é travessia de oceano
onde nos encontramos em um estreito navio. Na morte,
alcançamos a praia e nos dirigimos a diferentes mundos.
(R. Tagore, em Stray Birds, 1916 (4))

Assim cantarei, e os meus serão poemas e canções imortais.
(R. Tagore, psicografia de Divaldo Franco, Pássaros Livres, 1990 (5)).

Certas coisas têm acontecido comigo,
quando sozinho em meu quarto 
que me convenceram de que há inteligências espirituais
nos advertindo e guiando.  
William Butler Yeats (1865-1939).
De acordo com A. Kardec, a mediunidade, como faculdade das "pessoas que servem como intermediárias entre os Espíritos e os homens", não é simplesmente a capacidade de se comunicar ou trocar informação. A psicografia, em particular, é a capacidade que médiuns têm em emprestar suas mentes para que os Espíritos escrevam e manifestem conteúdo, artístico inclusive. Nesse processo, o Espírito mentalmente induz ideias e conceitos ao médium que pode ou escrever com suas próprias palavras ou captar e transcrever expressões semânticas inteiras conforme sugerido pelo autor. Nesse caso, concebemos a existência de uma escala de transparência mental entre o médium e o autor espiritual, de forma que alguns médiuns conseguem fielmente replicar o que o autor pretende escrever, enquanto que outros apenas pobremente transmitem o que mentalmente recriam para si ouvindo ou vendo. O uso de linguagem poética, entretanto, é uma boa indicação da eficiência do processo de "canalização" entre o desencarnado e o médium, porque elementos sutis de identificação podem ser transmitidos. A escrita automática é o termo dado a um tipo específico de mediunidade. O termo "psicografia" é muito mais geral para representar a experiência mediúnica de escrita. Portanto, esse termo é preferido por espíritas.

Um exemplo desse fenômeno é a colaboração entre Divaldo P. Franco (1927-) (2) e Rabindranath Tagore (1861-1941). De acordo com Divaldo Fraco, ele nunca tinha ouvido falar em Tagore quando foi visitado por esse Espírito certa noite em 1949. O episódio é descrito pelo próprio Divaldo, conforme citação do livro Semeador das Estrelas (3) :
No ano do aparecimento psicográfico de Marco Prisco, em 1949, certa noite eu estava deitado, quando ouvi uma música de uma beleza indefinível, tocada numa espécie de cítara. Ao som dessa música, muito plangente e muito profunda, tive uma visão belíssima de jardins verdejantes e floridos, cortados por um riacho de águas claras no qual deslizava uma barca. Nesta, uma Entidade veneranda, de túnica alva, de tez bem escura, em cuja fisionomia, de serena beleza, sobressaíam os olhos negros, enormes e brilhantes, e a barba alvinitente, cujos fios pareciam ter cambiantes prateados. — Eu sou Rabindranath Tagore, poeta da Índia, e desejo que me grafes alguns pensamentos — disse-me o Espírito. Imediatamente, levantei-me e providenciei o material para a psicografia, entrando em transe mediúnico, logo em seguida. Enquanto psicografava, continuei a ouvir a melodia, penetrante e bela. Eu confesso, honestamente, que nunca havia ouvido falar neste nome ou lera qualquer coisa a seu respeito. A partir dessa noite, durante certo tempo, Tagore foi ditando as várias mensagens que constituiriam seu primeiro livro, que, no entanto, só veio a ser publicado muitos anos depois, em 1965, com o título de Filigranas de Luz.
O autor de Stray Birds ("Aves Errantes", 4) retornou para cantar novos pássaros em livros como Pássaros Livres (5) e Estesia, depois do livro citado Filigranas de Luz em 1965. Não consegui encontrar versões em inglês para esses versos e prosas, de forma que, recentemente, traduzimos de forma imperfeita alguns enxertos para que leitores em língua inglesa apreciem - ainda que de forma pobre - o que Tagore transmitiu a Divaldo depois de sua última existência neste mundo. Assim, alguns desses versos podem ser lidos em inglês no post Divaldo Franco and Rabindranath Tagore do blog "piritist Knowledge. Desses, replico aqui "Pássaros Livres" ou Free Birds que consta no livro de mesmo nome (5). Outros podem ser encontrados no post citado.

Free Birds

My singings are songs that the heart unfasten with rapture thrill.
My songs are melodies that tenderness liberates from my soul's depths and launches toward travelling winds to reach far distances.
My sensibility is sharpen by love and I release the sweet music of hope standing on the tiny window of my pettiness.
I spread through the air the scores of a pentagram chanted by life from the bottom of my being.
By searching my King and my Lord, I modulate my word, I call, I sing and implore.
Like free birds dressed in light they fly to reach open space toward the infinite.
During either the heavy monsoons or droughts, my birds in the same way sing in freedom, enhancing the landscape with sound and beauty.
My birds are living poems of love that liberate themselves from the narrow cage of emotion where they are born to earn the vastness, like birds of happiness.
Take my songs my Lord and convert them into peace carrying birds heralding the eternal springtime for all the unfortunate ones in the world.
So I will sing and mine will be poems and songs of immortal kind.

R. Tagore (Divaldo Franco's psychograhy)

Diz-se que a obra de Tagore em inglês não representa de forma fiel a beleza de seus versos em Bengali (6). O famoso poeta espiritualista irlandês W. Butler Yeats (1865-1939) disse que "Tagore não sabe inglês, nenhum indiano sabe inglês" (6 e 7). Seria então possível que, ao escrever pela mente de Divaldo, Tagore tenha conseguido "grafar seus pensamentos" melhor do que conseguiria se o fizesse em Bengali e usasse um tradutor para o inglês? (ou digamos, para o português, caso fosse possível a Divaldo transmitir em Bengali)? De qualquer forma, a linguagem original foi o Português e é bem provável que exista interferência no "enlace Divaldo-Tagore", tanto quanto na tradução imperfeita que fiz. Entretanto, pode-se imaginar o uso potencial da mediunidade no futuro quando grandes artistas desencarnados poderão voltar e nos transmitir obras na linguagem própria do médium.

Para tanto, é necessário apenas que eles encontrem um instrumento mediúnico fiel.

Referências

(1) A. Kardec (1861) "O Livro dos Médiuns", Vocabulário Espírita. Capítulo 32.

(2) http://www.divaldofranco.net/

(3) S. C. Schubert (1989). O Semeador de Estrelas, 4a edição, Livraria Espírita Alvorada.

(4) http://www.kkoworld.com/kitablar/Rabindranat_Taqor_Kocheri_qushlar_eng.pdf (acesso em maio de  2015). Essa tradução parece conter frases que não consegui compreender direito, talvez não seja a melhor já feita a partir dos originais.

(5) D. Franco (1990). Pássaros Livres. 2a edição. Livraria Espírita Alvorada.

(6) Ver opinião de Amartya Sen citada na Wikipedia: "qualquer um que conheça os poemas de Tagore em seu original em Bengali não se sente satisfeito com a tradução (feita com ou sem a ajuda de Yeats). Mesmo as traduções de prosa sofrem de alguma forma com distorções." Citação original em Sen, A. (1997), "Tagore and His India", The New York Review of Books.
(7) http://en.wikipedia.org/wiki/Rabindranath_Tagore.