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24 de fevereiro de 2018

O Cérebro e o nascer de novo - afinal, quem somos? Uma hipótese neurológica

por Nubor Orlando Facure


"É preciso nascer de novo" passando por experiências múltiplas no decurso das encarnações. Uma questão em aberto e extremamente complexa é: até onde podemos saber o quanto e como são transferidos para o cérebro físico de uma criança, que está por nascer, o conteúdo de sabedoria e talentos adquiridos pelo Espírito no decurso de suas existências

O desenvolvimento do sistema nervoso

O patrimônio genético dessa criança põe ordem no seu desenvolvimento, acrescentando aptidões por etapas, que coincidem, essas fases, com a progressiva mielinização das fibras nervosas. Primeiro, são mielinizadas fibras de baixo para cima, que permitem a atividade motora das pernas e depois dos braços. No cérebro, a organização é de trás para frente, primeiro as áreas visuais nos polos occipitais e depois o lobo frontal que só completa sua formação depois dos 17 anos.

A memória – quem eu sou? Sou o que minhas memórias dizem.

O bebê humano ao nascer não está zerado em suas memórias. Os testes especializados confirmam que ele tem arquivado a voz da mãe e possivelmente outros sons que ouviu enquanto no útero, sem que haja confirmação que ouvir músicas de Mozart dará a essa criança um cérebro de um músico de talento.

O que é do conhecimento geral é que a criança não consolida, armazena ou retém como memória suas experiências até aos três anos de idade – esse esquecimento é conhecido como "amnésia infantil''.

Do ponto de vista espiritual não temos, como regra geral, nenhuma lembrança de nossas vidas passadas. Ensinam os autores espíritas que, mesmo não tendo essas lembranças, de uma maneira ou de outra, podemos perceber em cada um de nós certas tendências trazidas de outras vidas – ideias inatas ou mesmo pendores que se revelam sem maior esforço. Um determinado profissional, com formação acadêmica numa área específica, pode perceber suas tendências e habilidades em competências completamente diferente. Um professor de matemática ou uma psicóloga podem exercer em paralelo um talento para música, artesanato, ou um talento literário como fez o médico Guimarães Rosa.

Personalidade, caráter e temperamento têm uma base genética e, seguramente, uma influência da bagagem espiritual de outras vidas. Um Espírito amigo nos ensinou que podemos não saber o que fomos, mas, não é difícil saber o que fizemos em vidas anteriores.

Uma nota breve sobre os tipos de memórias

Podemos tirar da classificação das memórias três expressões fundamentais:

A memória semântica,  a episódica, que fazem parte da memória declarativa e, a memória implícita ou de procedimentos.

A memória semântica se refere ao conhecimento adquirido pelas lições que aprendemos de uma forma ou de outra: quem nasce no Brasil é brasileiro, Paris é a capital da França, Voltaire foi um grande filósofo do iluminismo, a América foi descoberta por Cristóvão Colombo.

A memória episódica, é personalizada, refere-se a fatos pessoais vividos por nós, é narrativa e por isso falha. Sua consolidação é mais firme nos dados autobiográficos: meu nome, meu endereço, meu estado civil, a cidade onde nasci, minha nacionalidade, de quem sou filho, que profissão exerço, quem são meus filho. A memória episódica de eventos pessoais, se refere a acontecimentos vividos por nós, recentes ou não: O que almocei ontem? Quem me telefonou essa tarde? Que praia fui nesse fim de ano? Quem me visitou nesse domingo? Esse modo de memória (episódica) tem uma marca temporal e é fortemente contextualizada. Com as marcas do tempo: fui na praia no natal, viajei na semana santa, fui pescar em fevereiro do ano passado, troquei de carro em dezembro. Ligadas ao contexto: assisti aquele filme no Shopping com minha esposa. Adorei o camarão daquele restaurante de Joinville, eu estava no hotel quando ouvi aquela notícia, foi no jogo de futebol que torci o tornozelo, fiquei em casa porque chovia muito. Essas memórias podem ser resgatadas, mas, como são retidas principalmente no hipocampo, ao serem lembradas nós sempre fazemos uma nova descrição dos fatos. Daí a incerteza dos testemunhos nos episódios da vida.

As memórias episódicas para eventos pessoais são fugidias e enganosas. Quem relatar sua festa de casamento faz o mesmo que os pescadores ou os jogadores, a cada relato produzem uma nova versão. É o que diziam os antigos: "quem conta um conto aumenta um ponto".

As memórias de procedimento são as habilidades aprendidas. Andar de bicicleta, dirigir o automóvel, pilotar o avião, dedilhar o teclado, lidar com a prensa da fábrica, talhar a madeira numa peça de artesanato, tocar ao piano, desenhar ou pintar uma paisagem.

Por outro lado, são extremamente corriqueiras, no ambiente familiar de muitos de nós, a ocorrência das memórias de procedimento. Há em quase toda família os desenhistas, os pintores, os pianistas, os artesões habilidosíssimos que fazem castelos na areia ou na madeira sem qualquer ensinamento prévio. Observando bem, em cada um de nós podemos perceber que as memórias episódicas são consolidadas firmemente até que alguma demência nos atinja nos fazendo esquecer até mesmo o nome. 

Recordando a história de vidas anteriores. Isso é possível?

São ocorrências raras, mas, vez por outra encontramos crianças fazendo relatos de terem vivido em outro lugar e dando as identificações necessárias para essa comprovação. A literatura médica e o cinema têm relatos enriquecedores que atestam a reencarnação e a ocorrência de permanência dessas memórias episódicas. Geralmente, com o crescimento da criança essas memórias se perdem. São também excepcionais, mas bem descritos, casos de persistência das memórias semânticas. São algumas crianças rotuladas de autistas, ou “idiots savans” que são capazes de responder brilhantemente sobre determinado tema de conhecimento geral ou de um domínio particular como literatura ou matemática. 

Por outro lado, certos eventos de nossa vida podem ocorrer carregados de forte emoção e um susto ou uma ameaça pode consolidar com mais força determinada ocorrência. Uma batida com o nosso carro em que alguém sai ferido, a ameaça de um assalto ou um sequestro, o medo de enfrentar uma cirurgia de risco, a dor de um fêmur fraturado na queda de uma bicicleta

Considerando a reencarnação, é provável que as memórias episódicas, carregadas de forte emoção física ou psíquica, podem ser uma boa explicação para nossos medos, as crises de pânico, as fobias, as dificuldades para enfrentar o elevador, o avião, uma picada da vacina, uma cobra, uma aranha, uma simples barata ou falar em público

As memórias de procedimentos

No decorrer da vida vamos aprendendo habilidade e adquirindo competências comuns a nós humanos: andar, correr, escrever, nadar, dirigir, pilotar, andar de bicicleta, soltar uma pipa e outras de maior destaque: tocar piano, violino, cantar com o violão, pintura, artesanato entre muitas outras.

O maior destaque nesse tipo de memória é que ela é mais ou menos permanente. Ninguém esquece como nadar ou andar de bicicleta. O dedilhar o violão ou o piano, por outro lado, exige treinamento constante, mas, os rudimentos básicos permanecem para sempre. Nunca me esqueço que o primeiro paciente que conheci com a doença de Alzheimer era um alfaiate. Não sabia dizer o nome da esposa, nem o seu endereço, mas, gesticulava com as mãos e mostrava como fazia o corte de tecido para fazer um terno – o paciente com essa doença é treinável e capaz de aprender certas habilidades motoras novas, mas, não retém um conhecimento novo, como por exemplo o endereço do hospital.

Pode-se conjecturar que as memórias de procedimento são as que mais se conservam de uma encarnação para outra. Elas permanecem sempre mais firmemente consolidadas em nosso cérebro – principalmente nos núcleos basais e no cerebelo – e os exemplos são parte da história de todas famílias – são as aptidões, os talentos, as tendências, os pendores artísticos e os desempenhos que surgem facilmente no artesanato, na música, na pintura, no esporte entre tantos outros.

Um resumo simples

A memória autobiográfica é firme, confiável, nos acompanha pela vida todo sem distorções. Nós a perdemos quando ocorrem leões cerebrais graves. Dificilmente ela permanece no transcurso de uma vida para outra.

A memória episódica é facilmente distorcida. Ela é regatada sempre com uma nova versão, não é recuperada. É recontada. É sensível aos eventos emocionais que aumentam os seus traços. Podem justificar o que sentimos hoje em forma de medos, fobias, traumas psíquicos, déjà-vu e outros fenômenos da psicopatologia humana.

A memória de conhecimentos, semântica, é acumulativa é pode favorecer o aprendizado em determinadas áreas de uma vida para outra.

E, finalmente, as memórias de procedimento que se expressam, geralmente, em habilidades motoras. São mais sólidas, costumamos dizer que ninguém esquece como andar de bicicleta. De uma encarnação para outra, elas podem permanecer como uma tendência profissional, talentos artísticos diversos, predisposição para esse ou aquele esporte.

E o que a morte fará com as nossas memórias?

Diz o povo que “dessa vida nada se leva”. Eu costumo dizer que, obrigatoriamente, vamos levar os nossos neurônios, estão impressos neles a nossa identidade. Um neurocirurgião famoso fazia suas cirurgias com o paciente acordado. Com o crânio aberto ele estimulava eletricamente várias áreas cerebrais. Além das repostas motoras e sensitivas ele conseguia estimular a região temporal onde produzia reminiscências guardadas pelo paciente. Sabemos todos, como espíritas, que o que ocorre no cérebro é transferido ao Espírito através e um veículo sem imaterial, o perispírito. Mas, durante toda nossa vida, as redes neurais acumulam um rico aprendizado que consolida nossos comportamentos e enriquece nossas memórias. Os exames de Ressonância Funcional e a estimulação direta nos neurônios detectam essas competências.

A pergunta é: tudo isso se desfaz com a morte? Aprendemos com a doutrina espírita que esse material é inteiramente transferido para o perispírito. Esse fenômeno nos permite conjecturar algumas consequências:

Logo após a morte, seremos exatamente os mesmos que somos hoje. Com as mesmas memórias, comportamentos e experiências. Isso explica porque, mesmo desencarnados, há Espíritos que continuarão duvidando da reencarnação. E, para maioria de nós, não será de um dia para o outro que teremos acesso as memórias do nosso passado.

Ver também: Entrevista V - Dr. Nubor Facure e as perspectivas espiritualistas para o ser humano.

Referência

8 de abril de 2014

Sobre a energia escura do cérebro e o determinismo genético.


"Com o tempo, a energia escura neural talvez 
se revele a própria essência que nos move." M. Raichle

“Não confundais o efeito com a causa. O Espírito dispõe sempre das faculdades que lhe são próprias. Ora, não são os órgãos que dão as faculdades, e sim estas que impulsionam o desenvolvimento dos órgãos.” ("O Livro dos Espíritos", resposta à questão #370)
Cosmologistas chamam de "energia escura" um campo que permeia todo o Universo e que é responsável por acelerar as galáxias e causar a expansão do cosmos. É "escura" porque não tem traço detectável, a menos da própria expansão, ou seja, poderia também ser chamada de "energia invisível".

Recentemente, o neurocientista Marcus Raichle divulgou resultados interessantes (1) sobre a atividade do cérebro em repouso e também invocou o conceito de "energia escura". Toda a questão se deve ao fato de que neurocientistas em geral acreditavam que o cérebro de alguém "em repouso" (2) não deveria apresentar sinal de atividade. De fato, os estudos feitos até então (2010) sempre procuraram detectar variações nos sinais de tomografia computadorizada (via PET Scan e ressonância magnética) por meio de diferença entre imagens que mostram o fluxo sanguíneo em áreas do cérebro, que é uma medida da atividade local de suas partes. Mas, tal processo cria uma limitação metodológica porque, quando duas imagens são subtraídas, o chamado "ruído de fundo" é eliminado.

Com isso, detalhes imperceptíveis ou fenômenos peculiares da atividade subjacente do cérebro são desprezados. Entre tais detalhes estão as chamadas "flutuações espontâneas" do cérebro, um ruído que até então se acreditava sem importância. Segundo Raichle, surpreendentemente, descobriu-se que o gasto energético de um cérebro em repouso é maior do que quando ele realiza alguma atividade sob estímulo externo.

Isso é algo até então difícil de ser compreendido porque, na visão puramente funcionalista do cérebro, somente deve haver atividade quando o órgão realiza uma tarefa. Existe, obviamente, um "metabolismo basal" que determina um gasto energético que não pode ser reduzido em um órgão em repouso. Portanto, imaginava-se que o cérebro deveria apresentar atividade reduzida em uma situação de repouso, na ausência de estímulos externos ou atividades cognitivas.

Esse novo estado de atividade foi chamado "default mode network" (DMN) ou "rede de modo padrão" e uma analogia com a energia escura foi feita. Segundo Raichle (1):
"Acredita-se que o DMN comporte-se como um regente de uma orquestra sinfônica, enviando sinais de temporização como o regente faz com sua batuta para coordenar a atividade de diferentes partes do cérebro. Tal controle - exercido sobre partes visuais e auditivas do córtex - provavelmente garante que todas as regiões do cérebro estejam prontas para reagir coordenadamente a um estímulo."
Essa é uma metáfora interessante, porque implica que é possível detectar no cérebro atividades relacionadas a uma supervisão central, o que Raichle qualifica como algo inesperado e que está, provavelmente ligado a funções superiores de consciência. Relações entre a DMN e a ocorrência de doenças tais como Alzheimer, depressão e a esquizofrenia parecem sugerir isso (3).

Portanto, é uma visão ultrapassada imaginar o cérebro como um sistema meramente reativo, executor de uma função. Há nele algo independente, que tem "vida própria", e que está no topo da hierarquia de comandos de diversas outras subfunções menores, detendo prioridade sobre elas, mas que aparentemente se silencia quando o indivíduo passa a executar alguma tarefa mental.

Como é possível existir a rede DMN nas próprias estruturas do cérebro, sendo desnecessária uma parte ou região específica para isso (4)? Várias regiões do cérebro estão associadas a funções específicas, mas o controle geral se estabelece de forma disseminada e coordenada por todas as regiões.

Qual é a relação que existe entre a DMN e a contraparte extrafísica do ser humano? Em suma: Quem controla a DMN?

Onde está a informação para a montagem do cérebro?

No mesmo número da  revista, é possível ler um interessante raciocínio numérico feito pelo físico e neurocientista Remy Lestienne (5):
Como a construção do sistema nervoso central poderia ser ditada pelo programa genético? Sabemos que o genoma humano contém cerca de 3 bilhões de "letras" (nucleotídeos) e estima-se em menos de 30 mil o número de genes realmente expressos (traduzidos em proteínas) no decorrer da formação de um organismo adulto. Esse número é insuficiente para dar conta de todos os detalhes do plano de organização do sistema nervoso. Apenas ele contém cerca de 100 bilhões de neurônios. E esses neurônios estão largamento conectados: não é raro que um neurônio receba informações provenientes de milhares de neurônios diferentes. Estima-se em mais de 100 mil bilhões  (10^14) o número de contatos de sinapses entre neurônios no sistema nervoso central. É, portanto, estritamente impossível que os cabos transmissores de um determinado sistema dependam  de um plano detalhado, inscrito no patrimônio genético de uma pessoa, como num feixe de esquemas de montagem de um televisor.  (grifos meus)
Comparando o cérebro a um dispositivo ou máquina, os genes representariam os planos ou "blue-prints" que orientariam sua montagem. Porém, sabe-se que a quantidade de informação contida nesses planos (material genético) não é suficiente para montar toda a máquina. A maior parte está faltando. 

Dada a ordem de conexões e elementos que formam o cérebro, como é possível que ainda insistam em determinismo genético para sua formação? Genes desempenham uma influência, mas, considerando a complexidade das estruturas do sistema nervoso, os genes certamente não contêm informação suficiente para organizar o cérebro e muito menos para determinar coisas mais difíceis de definir tais como sentimentos, memórias ou lembranças.

Em suma, as perguntas que aqui fazemos são questões que deixamos para meditação do leitor, ciente que somos de que essas descobertas talvez prenunciem outras ainda mais extraordinárias...

Notas e referências

(1) Raichle M. (2010), "The Brain's Dark Energy". No Brasil, a matéria foi publicada na revista "Scientific American Brasil", Edição especial #57 em 2014. O artigo original em inglês está disponível aqui: www.braininnovations.nl/Dark-Energy.pdf

(2) "Repouso" aqui não significa sono. Simplesmente é o estado de vigília sem qualquer tipo de atividade mental ou recepção de estímulos externos.

(3) Na verdade, a "explicação" fornecida cai na categoria das "justificativas". O DMN é necessário para manter o estado de vigilância constante do cérebro.

(4) O que seria uma espécie de "estação de controle".

(5) R. Lestienne, "O Cérebro não é uma máquina". "Scientific American Brasil", Edição especial #57 em 2014. 


1 de janeiro de 2012

Livro IV - O Cérebro e a Mente (uma conexão espiritual) pelo Dr. Nubor Facure

Há um grande fosso entre as considerações acadêmicas sobre as bases da consciência e os postulados espiritualistas. Esses últimos colocam como origem e destino das manifestações da consciência o Espírito ou princípio inteligente, independente da matéria. Já as academias - nas chamadas 'neurociências' - procuram explicar as manifestações de inteligência e consciência como subprodutos da atividade neuroquímica do cérebro. Esse assunto certamente ainda precisa ser muito desenvolvido, e o que as crenças acadêmicas sugerem  são explicações para o funcionamento de muitas funções cognitivas elementares, que se construiu a partir de uma visão fundamentalmente descritiva dessas funções, bem como sua localização no cérebro (ou seja, há um mapa que liga essas funções com partes específicas da massa encefálica). Não obstante a existência desse mapa, inexiste uma 'teoria da consciência' como muitos poderiam pensar que explique de forma satisfatória as manifestações superiores da consciência (além disso, é preciso ainda compreender o mistério que existe na chamada 'plasticidade neural').  

O neurologista Dr. Nubor Facure é autor do livro 'O Cérebro e a Mente - uma conexão espiritual' onde procura abordar o tema do ponto de vista espírita (e não apenas espiritualista). O livro é formado por vários capítulos (que não são numerados) conforme a sequência abaixo:
  • A Evolução do Cérebro
  • O Mapa do Desenvolvimento. Os Sistemas.
  • O Mapa do Desenvolvimento. As Funções.
  • Reconhecendo a Mente.
  • O Inconsciente Neurológico.
  • O Cérebro e a Mediunidade.
  • A Neurologia do Bem-Estar.
  • Revelações da Alma.
  • Psicognosia. O Reconhecimento da Alma.
  • O Homem Mediúnico. Uma perspectiva para o Ser Humano no futuro.
  • Ciência e Espiritualidade.
  • Doença Espiritual. 
  • Eventos Históricos na Pesquisa do Cérebro e da Mente.
De início já comentamos que uma das grandes deficiências do livro é inexistência de gravuras ou imagens que acompanhe as descrições feitas pelo autor (principalmente nos capítulos iniciais). O livro não contém, de fato, nenhuma ilustração exceto pela bela imagem da Nebulosa de Órion em sua capa. Uma vez que a neurologia definiu e especificou a existência de um mapa entre funções cognitivas elementares e partes do cérebro, seria muito mais didático se a descrição do autor fosse acompanhada de figuras. Isso considerando a grande variedade de áreas e funções existentes. A figura abaixo é uma imagem extraída de um modelo aberto em Sketchup (cortesia de Fussolia) para o cérebro humano que pode ser útil para os leitores acompanharem a interessante e bem feita descrição de Facure das funções cerebrais.
Modelo 3d do cérebro segundo Fussolia (via sketchup), com algumas das áreas discutidas por Facure em seu livro.
Em 'A Evolução do Cérebro' o autor se baseia nos relatos arqueológicos sobre a evolução do volume da massa do cortex, desde os símios até o chamado Homo Sapiens. Nessa descrição, o autor não se aventura a fazer qualquer 'conexão' com o princípio inteligente ou Alma que irá aparecer apenas no capítulo 'Reconhecendo a Mente'. O estilo do autor é bastante livre, ele consegue descrever de forma simples muitos dos conceitos. Há certa semelhança na maneira de apresentar cada conceito entre o que escreve o autor e André Luiz em vários dos livros sob psicografia de Francisco Cândido Xavier. Isso se caracteriza pelo uso do presente do indicativo para se referir a acontecimentos passados e fatos históricos na forma de curtos parágrafos.  

Duas passagens doe 'O Cérebro e a Mente' me chamaram a atenção. Na página 41, ao descrever o gigantesco número de conexões neurais existentes no cérebro e a quantidade de informação genética supostamente necessária para descrever detalhadamente tais descrições, Facure reconhece uma impossibilidade:
Ainda não se tem uma interpretação adequada para explicar quais os mecanismos que direcionam  essas ligações. Não sabemos, por exemplo, como os neurônios do olho se estendem pelas vias corretas até a parte de trás do cérebro, onde suas terminações têm que se distribuir por camadas de alta complexidade e com a exigência de impecável de que cada fibra deve ocupar com precisão o seu devido lugar. Acredita-se que a célula alvo contenha as substâncias químicas que exercem o papel de atrair a 'fibra certa' com a qual se deve ligar. Convém registrar que, enquanto temos milhões de gens, as ligações entre os neurônios são de tal forma numerosas que, para desligá-las, uma a uma, a cada segundo, seriam necessários 32 milhões de anos para completar a tarefa. Portanto, temos muito pouco material genético para, por si só, direcionar todas essas informações. 
Em outras palavras, a quantidade de informação contida no código genético é muito menor do que a necessária para descrever (ou mapear) as conexões neurais. De onde vem essa informação adicional? O problema aqui é que, embora se possa ter ideia dessas diferenças de informação, ninguém consegue quantificá-las corretamente. Mas, a necessidade de perfeição no concerto dessas ligações indica que alguma força adicional está em operação. Como a neurologia é conhecimento essencialmente descritivo, inexiste qualquer evidência sobre como essa força poderia operar, é como se apenas dispuséssemos da descrição de prédios e ruas do centro de uma metrópole sem poder saber absolutamente nada sobre as forças subjacentes que os utilizam durante a maior parte do tempo.

Outra parte interessante está na pagina 47. O autor considera que as estruturas encefálicas necessárias para a inteligência do homem moderno já estavam prontas a 100 mil anos atrás. Ainda assim, ele considera:
Podemos questionar, então, porque só tão recentemente fomos capazes de construir cidades, as pirâmides, a esfinge e redigir livros sagrados, considerando que a disponibilidade do cérebro já podia nos permitir desempenhar essas funções muito tempo antes. Pressuponho que a magnitude e a rapidez desse avanço, que ocorreu nesses últimos 250 séculos, deve ter sido precipitado ela vinda de criaturas, mais desenvolvidas, que vieram habitar entre nós, exercendo um papel de enxertia para a espécie humana. 
Uma observação pode ser válida aqui: é possível que a história que conhecemos seja apenas um esboço precário da verdadeira história pregressa dos últimos 100 mil anos. É possível que nossa história verdadeira tenha começado muito tempo antes dos 6 mil anos a. C. De qualquer forma, é interessante considerar que a arqueologia e antropologias modernas especifiquem um 'surto' evolutivo para a cultura humana apenas nos últimos 25 mil anos, enquanto que o cérebro moderno já estava disponível 100 mil anos antes. Isso pode corroborar a noção de nossa cultura tenha sido auxiliada pela vinda em massa de Espíritos mais evoluídos. Essa 'vinda' em nada teve de extraordinária: ela se deu pelas vias normais do nascimento comum e nada teve a ver com  uma 'invasão' extraterrestre. Assim, nenhuma evidência física dela será encontrada, apenas um surto de desenvolvimento, que é assinalado pelos estudos arqueológicos sem nenhuma explicação aparente.

Em 'Reconhecendo a Mente', é feita a primeira abordagem da necessidade de se incluir a Alma ou Espírito no quadro puramente descritivo das ciências neurológicas. Isso é feito pelo autor evocando-se tratados antigos de diversas culturas que reconheciam a existência de uma individualidade que é preservada além da morte. É importante considerarmos aqui que a postulação da existência da Alma não parte de uma necessidade meramente neurológica. De fato, podemos ter dificuldades em explicar a falta de informação no código genético para explicar as ligações neurais, mas o Espírito (sua existência e sobrevivência) vem como base independente dessas considerações. De uma maneira diferente dos capítulos iniciais, Facure descreve conceitos como Tempo, Matéria e Energia adentrando em conceitos primitivos de Relatividade e Física Quântica para justificar aparentemente a incompletude das descrições neurológicas da mente.

O Cérebro e a Mediunidade

O que também chama a atenção em 'O Cérebro e a Mente' é a tentativa de desenvolvimento da noção de Kardec de que a mediunidade tem a ver com a organização física do médium que, para Facure, sugere uma ligação estreita com a estrutura cerebral (o que daria origem a uma 'neurologia da mediunidade'). Nesse sentido, todos os tipos de mediunidade (mesmo aqueles que se poderiam considerar os mais 'físicos') passam pelo filtro do cérebro para que possam se manifestar. Isso contrasta fortemente com a opinião algo generalizada de que mediunidade deva ser algo 'místico'. E, também, sugere não se poder falar em mediunidade absolutamente mecânica, quando o médium apenas transmite o que recebe sem nenhum tipo de interferência. Esboços em direção ao desenvolvimento dessa ideia podem ser encontrado na pag. 84 ('Psicografia e Pintura Mediúnica'):
Com o desenvolvimento mediúnico, a psicografia e a pintura mediúnica manifestam-se claramente como expressões de automatismos cerebrais, nos quais o Espírito comunicante se utiliza dos núcleos da base e das áreas motoras complementares para executar a tarefa. Por isso, ambos, a psicografia e a pictografia, são executados com extrema rapidez; a caligrafia com frequência é ampliada e não há necessidade de acompanhamento da visão por parte do médium, porque ele já está treinado para execução do texto ou da pintura.
E não apenas isso. O conhecimento da maneira como o cérebro opera a codificação dos sinais visuais para fornecer ao Espírito a visão integral de um objeto (1) parece ser essencial para compreender as diferenças que existem entre descrições de diversos médiuns videntes. Mais recentemente, em seu blog, Facure discute uma possível explicação para esse fenômeno (2). Ele fala, por exemplo, que um paciente epilético pode descrever uma maçã sem cor. Isso acontece porque diferentes parcelas de informação de uma imagem vão para áreas diferentes do cérebro. Portanto, como a mediunidade está essencialmente ligada a estrutura física do cérebro, então diferentes médiuns poderão descrever diferentes aspectos de uma cena exterior, uma vez que essa faculdade dificilmente estará uniformemente desenvolvida entre eles (trata-se de uma nova faculdade em desenvolvimento na espécie Homo Sapiens). A Psicometria (capacidade de certos médiuns de conhecer a história pregressa de objetos físicos simplesmente ao tocá-los) é uma extensão das funções do tato ordinário que são processadas no lobo parietal. Dessa forma, prevê-se que as variedades (e intensidades) mediúnicas seriam tão grandes quanto as variedades de funções cognitivas disponibilizadas pelas diversas estruturas do cérebro. A nós parece que o Dr. Nubor Facure é um pioneiro na extensão desses conceitos oriundos de modernas descobertas da neurologia para indicar uma caminho a ser seguido na pesquisa da mediunidade no futuro. 

O leitor poderá encontrar ainda vários neologismos usados pelo autor no livro (tal como a palavra psicognosia com significado específico dado por ele), além do conceito do inconsciente neurológico. Na parte final do livro há um instrutivo quadro cronológico sobre as descobertas da neurologia, onde não deixam de figurar as contribuições de Kardec e de outros investigadores para a compreensão integral do ser humano. Não é possível estabelecer uma ciência da Mente onde o Espírito seja dela derivado a partir de observações da neurologia, assim sendo:
Estando presos à realidade física que nos limita, não poderemos explicar a fisiologia dessas aptidões. Todas elas estão ligadas a uma capacidade da Alma que utiliza também o cérebro, mas transcende a sua fisiologia. (pag. 97)
Pelo menos, isso ainda não ocorreu. Mas, certamente, o livro do Dr. Nubor Facure nos ajuda a aprender um pouco mais sobre o assunto.

Dados da obra

Título:  O Cérebro e a Mente, uma conexão espiritual.
Autor: Dr. Nubor O. Facure
Na nossa edição, não pudemos encontrar o ISBN dessa obra.
Número de páginas: 174.






Referências
  1. Com relação à maneira como o cérebro interpreta inicialmente a informação visual, uma descrição para os leigos pode ser encontrada no Capítulo 4 do livro 'Fantasmas no Cérebro' de V. S. Ramachandran (Ed. Record, Rio de Janeiro, 2004). Segundo este autor, existem cerca de 30 áreas no cérebro associadas ao processamento separado da informação visual. 
  2. Ver 'Mediunidade a visão das cores' postado em 26/11/11 no blog do Dr. Nubor Facure. Há outros posts sobre o assunto  mediunidade também.