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12 de fevereiro de 2013

Comentários sobre 'Kardec e os Exilados'

"Nos mapas zodiacais, que os astrônomos terrestres compulsam em seus estudos, observa-se desenhada uma grande estrela na constelação do Cocheiro, que recebeu, na Terra, o nome de Cabra ou Capela." (Emmanuel, Ref. 3)
Neste post, alguns comentários são feitos sobre o texto 'Kardec e os Exilados', que faz parte do blog 'Espírito Verdade' (1). Nossa análise não tem como objetivo invalidar as conclusões gerais a que o autor do texto chega com relação à necessidade de cuidados na aceitação das mensagens dos Espíritos.  Certamente, concordamos com a máxima de Kardec:
“Toda teoria em contradição manifesta com o bom-senso, com uma lógica rigorosa, com os dados positivos que possuímos, por mais respeitável que seja o nome que a assine, deve ser rejeitada” (2)
É verdade que devemos ter 'lógica rigorosa' e 'bom-senso' (o que talvez seja mais fácil afirmar do que exercitar na prática). O que pode não ser tão simples fazer é o uso correto dos 'dados positivos' diante dos quais se pode realmente executar uma análise rigorosa. Isso acontece porque o rigor é irmão do conhecimento profundo que, em ciência, só vem depois de anos de estudo e dedicação numa área específica.

Em particular a conclusão específica de 'Kardec e os Exilados', a saber, que é inválida a tese dos (Espíritos) exilados de Capela como apresentado em 'A Caminho da Luz' (3), não pode ser sustentada com base nas afirmações não referenciadas feitas nesse texto.

O livro 'A Caminho a Luz' (3) é uma síntese de seu autor sobre uma possível história para a Terra no passado longínquo. De forma alguma ele é um 'tratado de astronomia estelar' ou livro que pretenda ser científico a revelar mistérios que só cabem aos homens descobrir. Sua proposta é esclarecer moralmente seus leitores, sem pretensões de cientificidade. Por isso, soam inúteis e até ridículos os esforços de invalidá-lo apresentando montanhas de dados técnicos sobre Capela que a ciência presente ainda está analisando, sem chegar a conclusões definitivas. De outra perspectiva, o texto de Emmanuel trata de um tema absolutamente secundário na codificação e que, portanto, não tem consequências para seus princípios gerais.

Nossa conclusão é que o autor de 'Kardec e os Exilados' usa de malabarismos retóricos e não de 'argumentação rigorosa'  na sustentação de sua tese contra o livro de Emmanuel.

 Afirmações questionáveis

Fig. 1 Imagem sintetizada por um interferômetro mostrando o sistema duplo de Capela (alfa Aurigae). Cortesia 'Atlas do Universo'. 1 AU equivale a distância entre a Terra e o Sol.

Em ordem conforme aparecem no texto 'Kardec e os Exilados', comentamos alguns trechos abaixo.
"Segundo especialistas, Capela não tem planetas." (4)
Usando a 'lógica rigorosa' de Kardec, o mais correto é dizer que é hoje impossível saber se o sistema de Capela tem ou não planetas, pois os métodos presentes de detecção só permitem achar planetas com massa a partir de certo valor ou que estejam em condições especiais de alinhamento em relação à Terra (5). O que se sabe sobre o sistema de Capela atualmente é que:
Astrônomos julgam muito difícil detectar um planeta do tipo terrestre na zona habitável desse sistema binário usando métodos presentes. (grifos nossos, 6)
A extrapolação vai além, ao se concluir que:
"mesmo que algum fosse encontrado, nenhuma estabilidade apresentaria que possibilite ­(ou mesmo que tenha possibilitado em bilhões de anos passados) o surgimento de vida." (7)
O 'estabilidade', aqui, refere-se ao planeta. Não há nenhuma referência no texto ao que o autor entende por 'estabilidade'. Seria isso algum tipo de 'estabilidade dinâmica'?  Ou seria ela de outra natureza, por exemplo, química para sustentar a vida orgânica? Se não dispomos de métodos para detectar - mesmo que indiretamente - esse planeta, como podemos saber que ele será instável para a vida?

A tal estabilidade parece ter algo a ver com a questão dinâmica. Mais à frente, o autor de 'Kardec e os Exilados' comenta:
Eles têm ainda por certo que só estrelas simples ocasionam probabilidades para o desenvolvimento de formas orgânicas.(8)
Esta afirmação está desatualizada. Até pouco tempo atrás, alguns astrônomos acreditavam que apenas 'estrelas simples' (leia-se 'estrelas solitárias') teriam planetas, embora simulações dinâmicas mostrassem a possibilidade de existência de planetas em sistemas múltiplos (9). Capela é um sistema duplo (10), o que não impede que ela tenha grande chance de ter planetas, inclusive semelhantes à Terra. A possibilidade presente na ciência é oposta à afirmada pelo autor de 'Kardec e os Exilados':
Durante as fases de gigante combinadas relativamente breves das duas estrelas no presente, entretanto, um planeta poderia orbitar o par Aab desde que longe o suficiente das duas estrelas principais que agiriam como uma fonte gravitacional única e próximas o suficiente para receber energia para sustentar a vida, possivelmente a 12,5 UA de distância da binária. (grifos nossos, 11) 
Como 'vida', no sentido do texto acima, é a vida orgânica, um planeta a 12,5 UA (12) de distância do centro do sistema seria habitável. Portanto, a afirmação:
"Assim, em nome do Espiritismo, não se poderia sustentar que há ou que houve vida num planeta que não existe nem nunca existiu no sistema Capela", (13)
não tem fundamento. O planeta mencionado por Emmanuel pode sim existir. Ainda no texto 'Kardec e os Exilados', complementa o autor:
Capela, porém, é um sistema de nove estrelas (duas principais e mais sete) com tremendas instabilidades de várias ordens.(14)
O que também está em desacordo com os 'fatos positivos'. O sistema de Capela é formado por duas estrelas brilhantes (gigantes amarelas), além de mais duas estrelas anãs muito distantes, localizadas a 11 mil UA de distância do par principal. As outras 'cinco estrelas' a que se refere a Ref. 11 foram talvez resultantes de uma leitura apressada de textos de divulgação astronômica que mostram companheiras do sistema Capela que não estão fisicamente ligadas ao sistema (15). De forma alguma esse sistema é instável, pois a distância do par secundário é grande demais para gerar qualquer instabilidade.

Uma possibilidade para um planeta em Capela


Fig. 2 Concepção artística de Gliese 667C que também serve de ilustração para o sistema de Capela.
Admitida a existência de um planeta na zona habitável de Capela, como seria ele? Somos obrigados também a admitir que esse planeta seria igual à Terra (para suportar vida da única forma orgânica que conhecemos). Com base em previsões 'teóricas' (16), a Fig. 3 traz uma ilustração de uma órbita não excêntrica em torno do par binário de Capela nessa zona habitável. Um tal planeta teria que se localizar à distância de 12,5 UA do centro gravitacional do par principal. Portanto, a 'zona habitável' do planeta dos "capelinos" estaria pouco mais afastada que Saturno (9,5 UA), mas não além de Urano (19,2 UA). Nessa zona, um planeta rochoso como a Terra poderia abrigar vida, pois o nível de radiação que o atingiria seria equivalente ao do Sol, possibilitando temperaturas semelhantes à da Terra. Usando o princípio da constância das condições climáticas para a permanência da vida orgânica, o planeta teria que ter uma órbita aproximadamente circular em torno do par principal, levando cerca de 19,3 anos terrestres para completar uma volta em torno do par principal. Esses valores não são de forma alguma exatos, a zona habitável é, na verdade, um cinturão localizado próximo a essa zona aqui descrita. Visto desde esse planeta, Capela apareceria como dois sóis com brilho total equivalente ao da Terra (Fig. 2). O outro par de estrelas do sistema, por estar muito afastado, brilhariam como estrelas comuns no céu e teriam um movimento aparente muito lento por causa da grande distância de separação. É fascinante antever as perspectivas de vida nesse sistema que dista aproximadamente 42 anos-luz da Terra.

Fig. 3 Ilustração de um JavaApplet disponível na Ref. 5 ilustrando a zona de possibilidade de um planeta habitável no sistema de Capela, possível morada dos capelinos. A ciência presente não dispõe de instrumentos ou métodos de detectar esse planeta. A tabela  apresenta a distância orbital de cada elemento em relação ao centro gravitacional do sistema.
Conclusão

À guisa de conclusão final, consideramos:
  1. É verdade que não existem evidências sobre a existência de um planeta ao redor do sistema de Capela, mas isso ocorre por causa da dificuldade muito grande de sua detecção. Presentemente, a ciência astronômica consegue detectar planetas 'grandes' ou que estejam em condições de alinhamento especiais para sua observação indireta;
  2. Sistemas múltiplos podem portar planetas. De fato, garantidas as condições especiais acima descritas. Por exemplo, já se reportou a descoberta de planetas em sistemas de três estrelas (17);
  3. O sistema de Capela não é 'instável' nem apresenta 'tremendas instabilidades' como afirmado em 'Kardec e os Exilados';
  4. Os relatórios científicos sobre o sistema de Capela e o conhecimento de nossa época (descoberta de inúmeros planetas ao redor de muitas estrelas próximas) são muito mais favoráveis à existência do planeta do que à sua não existência;
  5. Os argumentos apresentados não invalidam assim a existência de um planeta do tipo terrestre no 'sistema de Capela', fato que poderá ser confirmado no futuro, assim que a ciência astronômica evoluir em seus métodos de detecção;
É um princípio importante da Doutrina Espírita que devemos submeter ao crivo da razão, da lógica e do conhecimento positivo o ensinamento dos Espíritos. O 'rigor Kardequiano' pede que se analise com profundidade os dados positivos, sem 'tendenciosismos' de qualquer espécie.

Além disso, também é urgente e ainda mais necessário que esse mesmo critério seja igualmente aplicado aos vivos segundo o corpo, que também podem ser presa de suas próprias ideias por mecanismos ainda desconhecidos de auto mistificação.

Para saber mais: Muitos mundos, muitas vidas: uma heresia que se torna realidade.

Referências

(1) Kardec e os Exilados. Blog espiritoverdade.com.br.
(2) O Evangelho Segundo o Espiritismo. Introdução, II.
(3) A Caminho da Luz. III. As raças adâmicas. 18a edição, FEB.
(4) Ref. 1, 6o parágrafo.
(5) O assunto é muito complexo e não pode ser escopo deste post. Para informações detalhadas ver: Wright J. T., Gaudi B. S. (2012), Exoplanet Detection Methods, arXiv:1210.2471. Essencialmente, há um limite inferior de massa para detecção de planetas e a Terra está na fronteira desse limite. Em particular a Fig. 5 do artigo citado mostra a distribuição de limites de detecção para vários métodos existentes em 2012.
(6) Ver site Capella 4, Sol Company. Texto original em inglês: "Astronomers would find it very difficult to detect an Earth-type planet in the water zone of this binary using present methods."
(7) Ref. 1, 6o. parágrafo.
(8) Ref. 1, 7o. parágrafo.
(9) Graziani, F. & Black, D. C, (1981), Orbital stability constraints on the nature of planetary systems, Astrophysical Journal, Part 1, vol. 251, Dec. 1, p. 337-341.
(10) Esse fato já era conhecido em 1919 com base em observações interferométricas. Interessantemente, em 'A Caminho da Luz' , o Capítulo III tem como subtítulo 'O Sistema de Capela';
(11) Ver site Capella 4, Sol Company. Texto original em inglês: "During the relatively brief, combined giant phases of the two stars at present, however, a planet could orbit the Aab pair far enough out for the two stars to act as a single gravitational source and near enough for it to receive enough energy to sustain life, possibly around 12.5 AUs out from the binary."
(12) 1 Unidade Astronômica equivale à distância entre a Terra e o Sol ou aproximadamente 150 milhões de quilômetros.
(13) Ref. 1, 8o parágrafo.
(14) Ref. 1, 7o parágrafo.
(15) O texto da Wiki para o verbete Capella diz: "In addition to the stars mentioned above, Capella has six additional visual companions—that is, stars which appear to be close to Capella in the sky. However, they are not thought to be physically close to Capella". Outra referência: Burnham's Celestial Handbook: An Observer's Guide to the Universe Beyond the Solar System, Robert Burnham, Courier Dover Publications, 1978, ISBN 0-486-23567-X; ver vol. 1, p. 264;
(16) Isto é, cálculos e suposições que determinam o nível de energia irradiada presente ao redor das estrelas.
(17) 'Novo planeta descoberto em um sistema trinário'. (Universe today). O planeta em Gliese 667C levou cerca de 10 anos para ser achado. Portanto, a descoberta de 'exoplanetas' não é uma atividade trivial.

11 de fevereiro de 2012

Muitos mundos, muitas vidas: uma heresia que se torna realidade.

Todo ser aspira, em virtude de sua constituição, ao alvo de sua existência. O homem tende à perfeição intelectual e espiritual! Se o homem é destinado a conhecer o Universo, que eleve seus olhos e seus pensamentos para o céu que o cerca e para os Mundos que voam por cima de si. É um quadro, um espelho em que ele pode contemplar e ler as formas e as leis do bem supremo, o plano e a organização de um perfeito connjunto...Estudar a ordem sublime dos Mundos e dos entes que se reúnem em coro para constar a grandeza de seu Senhor, é a ocupação mais digna de nossas inteligências. (Giordano Bruno, 1591, "De Immenso et Innumerabilibus".)

A época que vivemos é muito especial para a Astronomia. Temos visto notícias fascinantes, sobre a descobertas de novos mundos, novos astros, novas Terras. Em pouco tempo, cresceram as conclusões do mundo científico em direção à realidade de outros planetas fora de nosso sistema solar.

A velocidade com que essa constatação é feita só não é maior do que a expressividade com que ela é confirmada: quantos seriam os planetas fora de nosso sistema solar disponíveis? Até pouquíssimo tempo, havia a esperança de que talvez fossemos capaz de  descobrir alguns planetas parecidos com a Terra no enorme redemoinho de estrelas que constitui a chamada 'Via-Láctea'. Agora, a realidade é bem diferente.

A Via-Láctea (Fig. 1) é um turbilhão composto de aproximadamente 300, quiçá 400, bilhões de estrelas (isso mesmo 'bilhões', o número exato não é conhecido, Nota 1) unidas por uma força coesiva em direção ao seu centro. A dimensão desse sistema é coisa inimaginável: um raio de luz partindo de uma borda levaria cerca de 100 mil anos para chegar a outra borda. Esse mesmo raio de luz viaja a outros inimagináveis valores de velocidade, de forma a atravessar 10 trilhões de quilômetros em 1 ano (o que equivale a 300 mil quilômetros por segundo). As escalas são grandes demais, tudo é inconcebível para a mente humana. Por exemplo, o Sol viajando a impressivos 250 quilômetros por segundo em torno de seu centro leva cerca de 250 milhões de ano para completar uma revolução completa (o chamado 'ano galáctico'). As dimensões da escala galáctica atestam a dificuldade e insignificante probabilidade de conseguirmos detectar diretamente um mundo como nosso orbitando uma estrela desse sistema colossal.

Fig. 1 Concepção artística moderna da Via-Lactéa vista 'do topo'. Um sistema estelar com quase meio trilhão de  estrelas e, agora, quase um trilhão de planetas. O sol localiza-se a 30 mil anos luz do centro no chamado 'braço de Órion'. Crédito da Imagem: R. Hurt, SSC. 
Mas esses não seriam os únicos números colossais que a Astronomia iria revelar sobre a Via-Láctea. Em um artigo recente (Cassan, 2012), um time de astrônomos usando modernas técnicas indiretas de 'microlentes gravitacionais' demonstraram que o número médio de planetas orbitando estrelas na nossa galáxia é estimado como maior que 1, possivelmente 2 (ou mais). Essa quantidade varia conforme o tamanho do planeta (planetas menores que Júpiter seriam mais numerosos). Dado um limiar superior de meio trilhão de estrelas na Via Láctea, há implicações diretas sobre o número total de planetas existentes em toda galáxia: talvez algo próximo a 1 trilhão de planetas! A heresia de Giordano Bruno (Nota 2) se torna realidade. Embora a dificuldade na medida das dimensões de planetas do tamanho da Terra, já  foram descobertos diversos planetas externos (ver Fig. 2) pela missão Kepler, baseando-se em buscas em estrelas muito próximas ao Sol.

De fato, o que o time liderado por Arnaud Cassan (Cassan, 2012) mostrou é que planetas são regra e não exceção ("We conclude that stars are orbited by planets as a rule, rather than the exception"). As forças que arregimentam a matéria no processo de formação estelar quase sempre deixam restos que se torna planetas. Diante desse novo número astronômico, as perspectivas de se encontrar vida como a nossa em outros planetas tornam-se incontestáveis. 

Uma ideia antiga que o Espiritismo tem como princípio.

A ideia de que existiriam outros mundos semelhantes à Terra e de que eles seriam habitados não é nova (Nota 3). Mas, certamente, tal noção não foi muito popular ao longo dos séculos, pois contava com o obstáculo de que não se tinha uma ideia precisa do que eram as estrelas. No ocidente, a noção arraigada de que os astros seriam luminares feitos para 'adornar a noite dos homens' certamente deu força às concepções geocêntricas, da unicidade e especialidade do homem no Universo. A pluralidade dos mundos habitados carecia de qualquer fundamento e era claramente contrária a princípios religiosos que reservam um lugar especial ao homem pela Divindade. A heresia (Nota 3) foi contudo cultivada por alguns poucos e, de todas as ideias já classificadas como hereges, a pluralidade dos mundos habitados é a que terá um fim mais notável em direção a sua realidade.

A noção foi ostensivamente afirmada pelo Espíritos já em 1857 na questão 55 e muitas outras como as questões 56, 57,  58, 234, 235, 236 do "Livro dos Espíritos" e é um tema recorrente em diversas assuntos tratados nele (ver questão 172 abaixo). Há um artigo sobre a Pluralidade dos Mundos Habitados na Revue Spirite de Março de 1858. Foi o Espiritismo que também interpretou nesse sentido as palavras altamente figuradas do Evangelho de João no Capítulo 14, versículos 1 e 2: "Não se turbe o vosso coração. – Credes em Deus, crede também em mim. Há muitas moradas na casa de meu Pai". Isso acontece porque a pluralidade dos mundos é uma necessidade diante da nova dinâmica espiritual revelada pelos fundamentos da Doutrina Espírita:

Questão #172. As nossas diversas existências corporais se verificam todas na Terra?

“Não; vivemo-las em diferentes mundos. As que aqui passamos não são as primeiras, nem as últimas; são, porém, das mais materiais e das mais distantes da perfeição.”

Poucos perceberam a extensão das implicações da existência de muitos mundos do ponto de vista espiritual. Desde que a consciência não se limita à matéria, diante da lei das vidas sucessivas, a migrações de Espíritos entre diversos mundos é uma necessidade. Tal lei nunca foi representada, nem mesmo de forma alegórica, pela maioria das religiões. Essa possibilidade era reduzida diante da necessidade de se 'demonstrar' efetivamente a realidade da existência desses mundos. Agora, com quase 1 trilhão de mundos disponíveis só na Via-Láctea, quem sabe religiosos mais dogmáticos compreendam a extensão dessa descoberta para suas crenças.

Fig. 2 Comparação de dimensões de diversas 'Terras' ou planetas rochosos com dimensões semelhantes à da Terra que já foram descobertos. Para comparação, a Terra (Earth) e marte (Mars) são mostrados na figura. Crédito da imagem: NASA/JPL-Caltech.

Em outro post, discutiremos alguns aspectos epistemológicos importantes da questão e sua relevância para a pesquisa do Espírito.

Referências
Notas 

1 - Ver N. Wethington (2008). How Many Stars are in the Milky Way? Interessante sobre isso é ler a nota de rodapé de A. Kardec em 'A Gênese', Capítulo 6, "Uranografia Geral", "Os desertos do espaço", que traz a concepção do século XIX dessa descrição que fazemos aqui: "A nossa Via-Láctea é uma dessas nebulosas. Conta perto de 30 milhões de estrelas ou sóis que ocupam nada menos de algumas centenas de trilhões de léguas de extensão e, entretanto, não é a maior. Suponhamos uma média de 20 planetas habitados circulando em torno de cada sol: teremos 600 milhões de mundos só para o nosso grupo. Se nos pudéssemos transportar da nossa nebulosa para outra, aí estaríamos como em meio da nossa Via-Láctea, porém com um céu estrelado de aspecto inteiramente diverso e este, malgrado às suas dimensões colossais, nos pareceria, de longe, um pequenino floco lenticular perdido no infinito. Mas, antes de atingirmos a nova nebulosa, seríamos qual viajante que deixa uma cidade e percorre vasto país inabitado, antes que chegue a outra cidade. Teríamos transposto incomensuráveis espaços desprovidos de estrelas e de mundos, o que Galileu denominou os desertos do espaço. À medida que avançássemos, veríamos a nossa nebulosa afastar-se atrás de nós, diminuindo de extensão às nossas vistas, ao mesmo tempo que, diante de nós, se apresentaria aquela para a qual nos dirigíssemos, cada vez mais distinta, semelhante à massa de centelhas de bomba de fogos de artifício. Transportando-nos pelo pensamento às regiões do espaço além do arquipélago da nossa nebulosa, veremos em torno de nós milhões de arquipélagos semelhantes e de formas diversas contendo cada um milhões de sóis e centenas de milhões de mundos habitados" Tal descrição é condizente o estado do conhecimento astronômico e com os recursos tecnológicos disponíveis naquele tempo. Hoje, descobriu-se que a maior parte da matéria não pode ser observada diretamente, o que não era conhecido na época de Kardec.

2 - Dizemos 'heresia' pois Giordano Bruno (1548-1600) foi queimado vivo por defendê-la. Dentre as muitas 'heresias' de Bruno estavam a crença na reencarnação,  a ideia de que o Universo era infinito, de que as estrelas eram outros sóis e de que cada uma delas tinha planetas abrigando vida inteligente.

3 - A ideia remonta às discussões filosóficas dos antigos gregos. No século XIX um grande popularizador da ideia foi Camille Flammarion (1842-1925) grande admirador de Allan Kardec.